25 novembro 2003

Sempre que um homem quiser!


A colónia penal de Talus era um calhau inóspito perfeito para mentes frágeis terem alucinações, e infelizmente o que não faltava em Talus eram mentes frágeis! Toda a escumalha da galáxia era lançada em Talus, alguns para o resto das suas tortuosas vidas. Não havia qualquer preocupação de recuperar estes restos de humanidade, sim restos, diví­amos até dizer escória da humanidade. Os que eram lançados em Talus, era como se os lançassem vivos numa espécie de tumba, da qual dificilmente sairiam, se é que saíriam!
Os guardas prisionais, tinham sido recrutados de entre os mais calmos e bem-comportados presos, mas em abono da verdade, não havia necessidade de guardas prisionais. Talus era uma colónia penal inóspita, que nem era sequer auto-suficiente em questão alimentar. Um dia as naves de abstecimento estiveram em greve por cerca de 15 dias e a população de Talus ía sendo dizímada pela fome!
Por isso, os prisioneiros faziam por se portar bem, perante um director prisional que era afinal um político corrupto que tinha tido a má sorte de ter sido apanhado num escândalo sexual envolvendo pedofilia e tinha sido desterrado para ali. As autoridades nomearam-no autoridade suprema em Talus. Em Talus não havia democracia. Tudo era uma preocupação de sobrevivência, ás vezes nem isso, que a taxa de suicídios andava em 10/1.000 residentes. Não havia alas para os diferentes sexos. Os condenados eram largados em Talus e esperava-se que ou se acomodassem o melhor que podiam, ou morressem depressa. Apesar dos poucos motivos para viver em Talus, ainda assim os residentes faziam o melhor que podiam!
Talus era um globo de gelo, e a única forma de sobreviver era nas galerias subterrâneas. No Verão a temperatura subia para uns amenos 4ºC e era a ocasião em que todos aproveitavam para fazer pic-nics.
Foi neste lugar de fim-de-mundo que começaram a surgir acontecimentos estranhos. Num dos Verões Luigi Campino e o seu eterno companheiro Jorge Valente, tiveram uma das primeiras visões, das muitas que depois surgiram.
-- Juramo-vos que encontramos Deus! -- Dizia veemente Luigi juntado as mãos de forma beatifica.
-- Mas que bebida inventaram vocês desta vez? Que andaste a beber Luigi? -- perguntava com ar quase paternal a autoridade suprema, a quem tinham alcunhado de Nero.
-- Juro que não bebemos nada, Nero! -- Asseverava Jorge, com sinais de perturbação no rosto.
-- Raios partam, querem ver que neste calhau bom prós iogurtes, vocês apanharam uma insolação? -- Resmordeu Nero, cogitando que aqueles dois, não tinham imaginação digna de inventarem um disparate tão grande. -- Afinal onde viram vocês o Nosso Senhor?
Levaram Nero até um penhasco, por um carreiro. E foi então que todos viram uma claridade dentro daquilo que pareceia uma gruta, mas era apenas um calhau grande tombado de encontra a parede o penhasco. Os residentes seguiram Nero e este seguiu Luigi e Jorge, que sorriam apontando a luz:
-- Vêem!
Nero ficou com medo, e mandou o seu capanga Sertorius um gigante de 2,5m e 150Kgs de peso que fosse ver. Ele arrancou decidido por ali fora. Coisa que Sertorius nunca deve ter tido foi medo. Viram-no entrar na luminosidade e desaparecer. Mas demorou a vir. Nero olhava o relógio impaciente. Quando Sertorius voltou, parecia ter a face de um menino, tão pura e inocente. Nero achou que aquilo até ficava mal num gigante daqueles, e antes que perguntasse alguma coisa, Sertorius falou com uma voz meiga:
-- Nero, tens de ir lá tu! É tão bonito! Sinto-me...sinto-me feliz Nero. -- E começando a chorar -- Fiz tantas asneiras, mas o Senhor perdou-me de todas elas... Juro que nunca mais farei mal a ninguém!
Os restantes residentes riram-se, porque sabiam o génio de Sertorius, mas quando este olhou para eles calaram-se de imediato. Mas o olhar de Sertorius era meigo, quase como se pedisse desculpa.
Nero ficou intrigado, perguntando-se porque razão Nosso Senhor apareceria à escumalha da humanidade, mas depois o seu espírito prático de político trouxe-lhe a resposta: Era evidente que as possibilidades de sucesso eram muito maiores, aqueles desgraçados não podiam ser piores, portanto era só de esperar que se tornassem melhores!
Animado por esse pensamento avançou em direcção ao penhasco, também ele só podia melhorar.
A multidão seguiu, mas quando o viu entrar e desaparecer na luz, mantevesse respeitosamente à distância. Nero demorou a ponto de uma vaga de murmúrios passar uma e outra vez pela multidão.
Mas ele que apareceu, e erguendo os braços proclamou:
-- Meus irmãos... Anuncio-vos o Paraíso!

Sim, porque afinal, o Paraíso é sempre que um homem quiser...