04 novembro 2003

Nenhuma dor



Meu amor, como pode a noite suportar a tua tristeza? Como podem ainda as estrelas cintilar, se os teus olhos humedecidos estão tristes? Como me doi estar ausente, eu que queria ser o teu travesseiro, ou a água do teu banho! Eu que queria percorrer o teu corpo em mil carícias e ainda ficar sedento!
Mas hoje, sobre a minha cabeça há uma nuvem cinzenta.
Nos meus braços reina uma impotência de estar longe, ser tão pouco. E era com estes braços que te queria proteger, envolver, como se eu fosse o casulo e tu a borboleta a crescer dentro dele. E que num raio de sol rompesses as amarras que te prendem e voasses em direcção à luz! E que me cegasses para sempre nesse deslumbramento.
Calem-se os poetas, que o meu amor chora, e eu choro com ele. Como se me tivesse transformado em mar, e o salgado fosse das minhas lágrimas. E espumo enraivecido, como o mar que apesar de forte, tem os seus limites e não pode engolir a terra inteira. Bato nessa falésia que me impede de chegar a ti, que és terra, e que és fecunda. Sou apenas salgado e me debato, nos limites da minha força.
Se mais não posso, seja eu cor de prata, ou de ouro, ou de vermelho vivo, quando o Sol no seu corropio se afogar em mim e a noite vier. Mas que venha sem dor, sem nenhuma dor...