26 novembro 2003

"Não há soluções, apenas opções." -- in Solaris de Stanislaw Lem


A realidade é feita de mentiras, que repetimos com um fervor piedoso, religioso. Máximas que nos ensinaram como se fossem pérolas de sabedoria e já não são. Os tempos mudaram, e atiraram-nos para um vazio, de tédio, de apatia.
Temos medo, todos os medos, medo da doença, da conhecida e da desconhecida. Medo do futuro, porque nenhum parece provável, nesta era de suprema incerteza! Medo da vida, que parece errática e sem sentido. Medo da morte, porque não dá nenhuma alternativa. Medo do sexo, porque é sem amor! Medo do amor, porque nunca sabemos se é mesmo pra valer desta vez. Medo do trabalho por que é demais e mal pago. Medo do desemprego, porque tira a dignidade e o sustento. Temos até medo de ter medo, porque é ser fraco!
E temos razão para o medo, todas as razões. A fome aumenta no mundo. Os ricos estão cada vez mais ricos. Os pobres mais pobres. E os que estão no meio têm medo de se tornarem pobres e vão atrás de ilusões proclamadas por políticos. Mas como alguém disse:
-- Não há soluções, apenas opções.
Qual é a tua? Ou desististe de pensar, nesta letargia alimentada por quem te suga aos poucos até ao tutâno?
Nesta matriz, romperás as grilhetas da escravidão ao sistema, ou dentro do sistema serás o grão de areia? Lembra-te:
-- Não há soluções, apenas opções.
Salmodearás outra vez os lugares batidos do bom senso? Um bom senso colocado no lugar da canção de embalar, para te enganar com a ideia que tudo tem de ser assim. Mas porque tem de ser deste modo? Porque tem de ser tão injusto, com as mortes transmitidas em directo? Refastelados nos sofás, ainda estamos com os pães quentes. Condoemo-nos da desgraça alheia? Ou é apenas mais um filme, que já nem acorda em nós a indignição? Que vais fazer? Dormir descansado esta noite, que já tens preocupações em demasia? Que preocupações são as tuas? Levantar cedo amanhã, para repetires gestos quotidianos até ao exaurir dos teus dias? E morrerás feliz? Não te parece demasiado patético? Nunca te perguntaste porquê? Se pensaste arrumaste o pensamento num lugar escuro, profundo, donde não pudesse voltar, porque é incomoda a resposta! Pensar tornou-se nojento, nesta sociedade de ratos amestrados!
'Tem de ser assim!' Mas porque tem de ser assim? E depois quem pensa leva um rótulo e trocam-se olhares trocistas e superiores. Não, não falo dessa intelectualidade banal, formulada em mesas de café, tipo tertúlia. Não falo de blogs. Falo de pensar para tomar opções, pois não se deve esquecer que:
-- Não há soluções, apenas opções.