12 novembro 2003

Sem jeito



Lamento! Palavra que lamento este vazio no peito, que se vai enchendo de raiva e de dor. Sinto que a minha vida é como a fumaça que sai deste cigarro...
Sei que nem tudo foi mau. Nada há nesta vida 100% mau nem 100% bom. E sei que em toda a separação a culpa é dos dois. Desculpa a amargura e a revolta. Não mereces isso, porque contigo ainda fui feliz. Mas é este sentir que acabou, que doi demais e me coloca nas palavras uma raiva que não consigo travar.
Penso que é o sentir a vida meio sem sentido, como construir uma torre, para quando a julgava acabada, vê-la desmoronar. É semelhante à angústia que fica em quem perde tudo num fogo. Ficam as recordações, e mesmo essas sabemos que a memória um dia acabará por esquecer.
Porque tem a vida que ter toneladas de vento que procuramos ensacar sem nunca conseguir?
Dizes-me o porquê das coisas, ou nem tu sabes, tal como eu? Somos formiguinhas labutando atarefadas nas nossas vidas sem dimensão de futuro. É só presente! E este presente é cruel e amargo. Talvez seja por isso que gosto tanto do meu filho, ele é a única dimensão do futuro que me resta.
Gostava de dizer-te que a culpa também foi minha. Talvez devesse ser mais resignada, mais sujeita. Talvez devesse ter-me mantida quieta nalgum canto, brincando com as amigas em conversas de circunstância, limitado os meus sonhos, os meus desejos, as minhas expectativas. Com o que queres? Sou uma filha do vento, e parto em cada novo dia à descoberta de mim e do mundo. Sou também uma filha do mar, porque posso ser salgada e violenta como uma onda, na energia que o vento me confere. Desculpa eu ser como sou, mas é a minha natureza...
Se ao menos gostasses da espuma que crio quando tal como a onda rebento de encontra a falésia! Se a agarrasses nas tuas mãos e deixasses que o vento ta tirasse, saberia que havia ainda alguma esperança. Mas limitaste a deixar as mãos no bolsos, como um proletário cansado em final do dia. Esperei por ti, fumando cigarros atrás de cigarros num nervosismo doentio. Sei que tu me amas, mas gostava que mo dissesses. De qualquer jeito, de qualquer forma...