28 dezembro 2021

Entre o sol e o mar

 

Fotografia a partir daqui.
 

“Não sei, não posso fazer nada…Aliás mesmo que possa, não sei o que poderia fazer!” disse ele contemplando a montanha do outro lado, cheia de pinheiros verdes. Um resto de pinheiros verdes numa mancha ininterrupta de eucaliptos.

Quando havia que navegar, pelo desconhecido mar azul dentro, a roerem-nos as saudades de terra, como de pão e limões, havia muitos pinheiros verdes, e carvalhos e freixos. Depois trouxemos de lá essa raça maldita que igual à vida nos chupa até nos secar.

Olhou para os pés, como se eles contivessem alguma resposta filosófica ao mistério de existir. Talvez tivessem, ensinando que o caminho se faz caminhando. E que tudo o que importa é a caminhada…

“Quisera eu saber o que fazer… Como fazer… Ao invés de ser usado como um esparadrapo, um farrapo velho… Descartável…” Tudo nesta vida acaba descartável sem remissão. Acordamos na madrugada, no sufoco de uma existência ainda não finda, mas mesmo assim sem destino. Como autómatos seguimos em direção às unidades de produção, ou a qualquer outra tarefa inútil, que o mundo é um aglomerado de tarefas inúteis que todas juntas, parecem produzir algum bem, mas é tudo um agregado sem valor. No fim, deixa sempre um amargo por onde passa e passa por todo o lado, a tudo contaminando, conspurcando, dessensibilizando, arrastando até à margem do mar, à praia, onde nos deixa em abandono e vento.

A nortada varre a praia, porque a natureza sabe que tudo são ciclos, repetindo-se no infinito até à vertigem. Por isso varre, para a casa estar sempre com esse aspeto de novo, pronta para receber alguém…

“Não quero fazer nada… Quero sentar-me aqui, na maciez da areia, entre o sol e o mar…”