24 dezembro 2005

O Quarto de Espelhos


Não sei ao certo o que se passa, possívelmente estou apenas a endoidecer. É como se através da minha visão periférica tivesse vislumbres de mim. Vejo-me a mim próprio. À pouco foi no café, estava a pagar a bica e pareceu-me ver distintamente pelo canto do olho, a mim próprio a estender a mão com a moeda para pagar.
A coisa tem piorado nos últimos dias, vejo-me nos meus próprios sonhos, mas descobri que não são sonhos nenhuns, são pedaços das minhas memórias que agora me são dadas observar, como se eu me tivesse cindido e um dos meus ‘eu’s tenha agora o privilégio de ser o observador.
Ainda ao menos se isto tivesse algum sentido! E anda a pôr-me louco! Observar-me em quase permanência é como se nos andassem sempre a espreitar por cima do ombro. Nem sequer consigo deixar de me avaliar, julgar, criticar em cada situação.
Falei com a minha esposa e ela diz que ando nervoso demais e que devia tentar acalmar-me. Não insisti, pois tenho medo de descobrir que estou a ficar louco. Tento acalmar-me, dizer para mim próprio que por pior que esteja a situação, ainda não está em causa a sobrevivência.
Mas que me importa isso? Apenas queria saber porque razão caí nesta espécie de quarto de espelhos...

01 novembro 2005

Na própria pele


Quero. Não sei ainda. Mas persisto em construir na minha mente uma imagem, porque me disseram que não tenho direito a nada. Nada! Já não se condena à morte aqui neste Sistema Estelar. Aqui domina-se a morte e a vida e colocam os condenados num sistema de hibernação. Sonhamos dizem. Educam-nos explicam, através de cursos hipnóticamente induzidos no nosso cérebro. Que interessa? Talvez devessem ter-nos moldado antes, que agora chega sempre tarde. É sempre tarde depois dos desastres. Eles não tem remédio, tal como esta impaciência humana.
Dizem que cometi um crime, mas não me consigo lembrar. Um crime de tamanha enormidade que me queriam por a hibernar para sempre. Dizem que levei uma praga qualquer a um planeta e dizimei a maior parte da população. Dizem que sou um terrorista, mas não me lembro. Que raio de causa defenderia eu ao dizimar um planeta? Que culpa, na minha opinião teriam esses desgraçados?
Mas o colectivo de juízes e o júri, achavam que não havia dúvida razoável para me não condenarem. Encontrarem um culpado nas catastrofes apazigua o colectivo. Acho que era por isso que as civilizações antigas faziam sacrifícios humanos. Eu sou mais um.
Sei que quando fui colocado no tubo de hibernação, as máquinas assinalaram uma onda estranha emanando do meu corpo. Os ‘hibernantes’ nas proximidades acordaram e depois de entrevistados falaram de uma sensação de plenitude, de felicidade, como nunca antes tinham sentido e quando tentaram hiberná-los de novo, pura e simplesmente não foi possível. Mas os psicologos ao entrevistá-los achavam que havia uma profunda mudança na personalidade deles e que estavam curados.
Curados? Há alguma cura para o facto de sermos imperfeitos?
Agora estou dentro de um tubo. Um hibernante. Mas estão enganados. Eu não estou ali onde está o meu corpo. A minha mente projectou-se e saltei para a mente de Joaniquem. Ele é o pretor dos górdios, um povo orgulhoso algures em Sigma 3. Joaniquem quer estabelecer penas de hibernação aos criminosos, como me aconteceu.
Troquei a minha mente pela dele e coloquei-o no meu corpo e habito agora o corpo de Joaniquem. Em Sigma 3 não haverá hibernação.
Antes de mandar no futuro dos outros, é conveniente senti-lo na própria pele...

15 outubro 2005

Abraçar-te de novo


O chão juncado de folhas e um corpo caído. Pareciam afinal duas faces da mesma moeda ou talvez não. Talvez fosse apenas uma coincidência e o corpo erecto caísse como folhas de árvore. Afinal tudo não passava de pó. Pó que por um tempo se erguia do chão com vontade própria... Até cair, tombar.
Ajoelhei-me junto ao corpo caído e concedi-lhe do meu fôlego, mas era tarde. Já não havia espírito e extinguira-se a luz do olhar.
Não queria que fosse assim. Não queria que tudo terminasse, fazendo de todos os nossos esforços passados uma futilidade. Mas de todas asvezes foi esse amargo pensamento que me inundou. E nos braços uma impotência maior ainda do que a minha amargura. O corpo rolou novamente para o chão.
Mas dessa vez não consegui chorar.
Apenas me apetecia caminhar, correr, fugir dali para bem longe, até me cansar ou também eu cair.
A tristeza foi pesada e apenas consegui ficar, até virem os bombeiros e a polícia. Esta última fez-me um longo interrogatório, como se eu fosse o culpado pela tua morte súbita. Não sei porquê quis ser culpado. Mas descobriram que não era.
Que interessa isso? Enterraram-te.
Seguiremos as nossas tristes vidas à procura de uma razão para esta repetição de dor. Haverá mais. Acaba por ser tudo tão sem sentido que não me importava de estar no teu lugar!
Talvez seja por isso que partimos resignados, fartos de tudo!
Haverá alguma boa razão para isto? Dizem que sim, que em breve esta dor terá fim. Que os mortos voltarão outra vez a viver. Quanto a mim, é apenas um jogo demasiado macabro.
Se um dia tudo isto tiver sentido, espero abraçar-te de novo...

16 maio 2005

PANSPERMIA

Ele fora o último a chegar. Já deviam estar ali uma vintena de pessoas que se aglomeravam em pequenos grupos. Primeiro agrupavam-se por idiomas e depois cindiam-se em pequenos grupos que tentavam em vão compreender o que lhes acontecera. Era mais do que óbvio que nenhum deles tinha nenhuma explicação plenamente satisfatória.Felizmente percebia a maioria das línguas faladas ali e foi fácil fazer-se entender:
-- Presumo que igual a mim, não sabem porque estão aqui, não é?
Os diversos grupos calaram-se e olharam para ele, depois um um homenzinho baixinho e careca com o rosto afogueado dirigiu-se a ele numa espécie de inglês e fortemente furioso declarou:
-- É você seu imbecil, seu idiota! Sabe que me fez perder um negócio importantíssimo? Sabe seu idiota?! Vou processá-lo! De tal forma que se vai arrepender um milhão de vezes de me ter arruinado um negócio fantástico! Vou reduzi-lo a pó...
-- Acalme-se... Afinal ainda está vivo, podia nem ter essa sorte...
O homenzinho acalmou-se e compôs os óculos que lhe tinham tombado com a exaltação. Ele dirigiu-se a uma moça embrulhada numa toalha e com o cabelo completamente molhado.
-- Estava a tomar banho ou a secar-se quando aqui veio parar?
A moça olhou para ele algo constrangida e disse:
-- Tinha acabado de tomara banho e agarrava a toalha de banho quando me vi aqui...
-- E ninguém teve ainda decência de lhe emprestar roupa? Pegue, vista o meu casaco sempre fica mais confortável... Use a toalha como vestido...
Os homens em volta afastaram-se, mais por vergonha de não se terem lembrado do que por pudor. Um jovem aproximou-se e tirou a sua camisola comprida.
-- Talvez seja melhor usar isto...
-- Obrigado. – disse ele e entregou a camisola à moça.
Um senhor de meia idade aproximou-se dele e perguntou-lhe:
-- Tem alguma noção do que nos aconteceu?
-- Sim, tenho. Mas é bom esclarecer que não sou o responsável por isto...
As pessoas começaram a juntar-se a ele.
-- Então? – voltou a perguntar o homem de meia idade.
-- Não sei se já ouviram falar no princípio da incerteza de Heisenberg?
Alguns abanaram a cabeça em sinal afirmativo. Ele decidiu esclarecer:
-- Heisenberg foi um físico contemporâneo de Einstein. Ele postulou que é impossível saber o exacto lugar de uma partícula num determinado tempo e tudo o que podemos determinar são as probabilidades de uma dada partícula estar num dado lugar, num dado tempo. Einstein detestava esta ideia e tentou contrariá-la até ao último dia da sua vida sem conseguir. Mas foi a partir dela que se desenvolveu a mecânica quântica, e que foi possível termos computadores.
-- E que é que isso tem que ver com a nossa situação? – perguntou alguém.
-- Bem, talvez não tenha nada, mas talvez tenha... Seguindo o princípio da incerteza de Heisenberg há a possibilidade remota de as partículas que nos constituem estar aqui e no momento seguinte sabe-se lá onde!
-- Você é doido! – disse alguém.
-- É uma explicação... – disse outro – E até tem o mérito de ser científica!
-- Pode lá ser! – insistiu outra vez alguém.
-- Einstein também achava que tal ideia de Heisenberg era quase sacrílega. Ele disse que ‘Deus não brinca aos dados’. Portanto posso compreender a vossa incredulidade, o vosso espanto. Tentei encontrar uma explicação razoável, mas estou de mente aberta a outras...
Todos ficaram calados, e depois alguém perguntou:
-- Mas como pode ser? Então e porque não aconteceu com as pessoas que estavam ao meu lado, eu ía no metro a caminho do emprego e de repente pareceu que a luz faltou por um milionésimo de segundo e vi-me aqui! Porque não foi toda a carruagem trasportada para aqui com todos os passageiros?
-- Isso, -- disse ele – eu já não lhe sei explicar! Mas há uma função matemática que permite o caso da singularidade, é o Dirac!
-- Bem pensado! – disse alguém.
O homenzinho baixinho e careca, agora mais calmo decidiu voltar à carga:
-- Ó sabichão e como é que isso nos faz voltar para casa?
Ele riu-se:
-- Não faz!
O homem ficou lívido e repetiu:
-- Não faz?
-- Não. Acho que devíamos aceitar a prespectiva de que aqui é o nosso novo lar, o nosso novo mundo...
A moça a quem ele emprestara o casaco, agora vestida com a camisola do outro jovem e com a toalha a fazer de saia aproximou-se dele:
-- Acha que vamos mesmo ficar por aqui?
-- Não posso saber. Mas acho que devíamos encarar essa perspectiva. Devíamos dar-nos por felizes de estarmos vivos! Imaginem as probabilidades de isto acontecer! Acho que são maiores do que a quantidade de átmos no Universo!
-- Talvez seja um milagre de Deus! – disse outro.
-- Ou um programa televisivo de apanhados!
E ele lembrou:
-- Ela estava em casa a tomar banho, não creio que nenhum programa de apanhados pudesse trazê-la para aqui. – e virando-se para ela – Estamos nalguma programa de ‘apanhados’?
A moça começou a chorar e ele abraçou-a.
-- Acalme-se, vai ver que ainda nos havemos de sair muito bem...
A notícia espalhou-se como um fogo aceso numa estepe abrasada. Estavam todos ali, como se tivessem acabado de sair da arca de Noé. Era um Mundo Novo e não tinham a mínima pista de que mundo era, como era. Tudo para descobrir. Descobrirem-se acima de tudo, perceberem o que eram capazes de fazer ou de originar. E ele voltou a falar:
-- Já que temos um mundo novo por nossa conta, acho que seria razoável, sensato, inteligente, não fazer deste uma cópia do outro.Devíamos tentar pelo menos, não repetir os erros que cometemos no outro...
-- Ai sim? Querem lá ver que vais ser tu quem nos vai governar não?
-- Eu não. – disse ele – Hão-de descobrir maneira de se governarem.
E ele partiu numa direcção qualquer. Todas eram boas, ou más.
O homem de meia idade seguiu-o, e a moça e o jovem.
O homem de meia idade perguntou-lhe:
-- Não se importa que vá consigo?
-- Claro que não! – E sorriu.
-- Sabe... – disse o homem – Talvez seja assim que a vida se espalhe pelo Universo!
Ele sorriu:
-- Não sei, mas é uma hipótese...
A moça aproximou-se:
-- Serão os nossos filhos a povoar este mundo
Ele sorriu de novo:
-- É outra hipótese.
O jovem que dera a camisola à moça como se tivesse recordado de algo gritou:
-- Panspermia!

09 fevereiro 2005

O Homem dos Torpedos


-- Capitão! A escotilha não abre...
-- Estamos sepultados!
-- Ah! Ah! Ah! Agora é uma boa ocasião para testarem a vossa fé! Peçam a Deus que vos salve! Ou então os que acreditam no poder da mente, mentalizem-se de que vão sair desta! Espíto positivo! -- disse o homem dos torpedos.
Sempre me pareceu ser ele a encarnação do Diabo, e agora que estavamos todos prisioneiros de um submarino sem propulsão aquelas palavras deram-me vontade de o esganar imediatamente.
-- Podíamos fazer algo prático! Metíamos aqui o homem dos torpedos dentro de um tubo e disparavamos! Tinhamos duas vantagens: Era menos um a consumir oxigénio e livravamo-nos de ouvir os seus disparates... -- disse o radio telegrafista.
-- Calma! -- recomendou o capitão -- Não é ainda a altura para desanimar...
-- Pois não capitão! -- disse o homem dos torpedos -- Pelo menos para quem acredita na ressurreição. Ah! Ah! Ah!
Acho que o Diabo em pessoa se candidatava a um linchamento, mas todos ficaram quietos.
-- Radio telegrafista, consegues emitir ou receber alguma coisa?
-- Não capitão, só estática...
-- Acho que o homem dos torpedos faz interferencia... -- disse alguém.
-- Medricas! Homens sem fé, nem fibra! -- rosnou o homem dos torpedos -- É mais fácil culparem alguém do que enfrentar a vossa morte não é? Mas vede que isso não vos adianta muito...
E para irritar todo o mundo, pos-se a cantar uma canção nazi que dizia a certa altura: "O futuro pertence-me!"
-- Puxa capitão! Sei que a situação como é, já é lixada, mas com este tipo é uma espécie de tortura vinda do inferno...
-- Mas um inferno gelado! Ah! Ah! Ah! -- riu o homem dos torpedos.
-- O Sr. se não é capaz de dizer nada animador ou que contribua para sairmos daqui, por favor, cale-se, certo? -- disse o capitão ao homem dos torpedos.
-- Dá licença que fale meu capitão? -- pediu o homem dos torpedos.
-- Até agora não precisou de licença... Fale!
-- Temos torpedos suficientes para todos os membros da tripulação e os lança-torpedos estão operacionais. Proponho que a tripulação se meta dentro dos torpedos e sejam disparados em direcção á superfície.
-- É viável? -- perguntou o capitão.
-- Ser é, mas não é uma perspectiva que nos encha de entusiasmo... -- disse o homem das máquinas. E continuando: -- Mas resta um problema. Alguém tem de ficar a disparar os torpedos!
-- Ok! Eu fico. -- disse o capitão.
-- Permita-me que fale meu capitão. -- pediu de novo o homem dos torpedos.
-- Diga...
-- Fico eu! O meu capitão não percebe nada de disparar torpedos e ainda matava alguém! Por isso fico eu. E se não me deixarem ficar, não ajudo ninguém a disparar os torpedos!
Foi a primeira vez que achei que até o Diabo afinal podia ser boa pessoa, mas ele acrescentou:
-- Tenho um último pedido...
Todos se entre olharam.
-- Diga! -- pediu o capitão.
E com um riso trocista de pleno gozo:
-- Quero que prometam que posso ficar com as vossas almas! Ah! Ah! Ah!

01 janeiro 2005

A voz dentro da cabeça

Lembro-me que me sentei na borda da cama; que juntei as mãos como há muito não o fazia. Naquele momento pareceu-me que seria adequado. Queria falar com Deus.
Dito assim pode parecer uma ocisa natural, que sempre o fiz, como aqueles que há noite antes de deitar, fazem a sua oração. Mas não. Há muito tempo quenão me disponha a falar com Deus. Falar mesmo. Chamam-lhe oração, mas eu não queria isso. Queria perguntar-lhe umas quantas coisas que me perturbavam e queria respostas.
Porque havia Deus de mas dar? Para provar que sou também seu filho e que Ele não é parcial.
Tentei com todas as minhas forças, mas Ele não respondeu. Presumo que seja uma pessoa ocupada. Mas estou mais convencido que pasmou de tédio, pois como pode entreter a sua mente gigantesca? A menos que esteja a criar algo novo,não tem como. Ainda por cima dizem que Ele está num Sábado, ou seja no seu descanso. Deve ser muito aborrecido o seu descanso, pois como Ele já sabe tudo, não pode entreter a mente com algum jogo, ou quebra-cabeças, como nós humanos.
Acho que Deus adormeceu e se esqueceu de nós. Embora sendo Ele auto-suficente,não deve precisar do sono para nada, o que acrescenta mais aborrecimento ao seu tédio.
Entretido nestes pensmanetos soou uma voz dentro da minha cabeça a rir-se e que dizia:
-- És muito engraçado! Então aborreço-me de tédio, não é?
-- Deus?... -- Perguntei, nem sei se em voz alta, tal foi o meu espanto!
-- Ora, quem esperavas? Mas isso nem é realmente importante...
-- Peço desculpa,não queria parecer i nsolente... -- Procurei eu amenizar a coisa...
-- Ora! Deixa lá, se me preocupasse a sério com isso, teria muitos insolentes para me entreter!
Concordei intimamente, mas não o disse e a voz continuou:
-- Sabes, é aborrecido que me estejam sempre a perguntar as mesmas coisas...
-- Presumo, que deva ser por não terem tido respostas satisfatórias...
-- Engraçadinho... Diz-me lá, por exemplo, o que gostarias tu de me perguntar...
-- Porque há sofrimento no mundo?
-- Eu não digo! E porque havia eu de responder a essa questão? Acaso se te explicar acaba o teu? É obviamente uma pergunta para me provocar! É estar a dizer: Eu acho que és o culpado, qual é o teu alibi? Ora francamente, isso é... como é que dizem agora? Ah já sei! Intelectualmente desonesto!
-- Deus... -- Interrompi -- Peço desculpa, acho que efectivamente estais certo, o que me preocupa mesmo, é porque é que vou morrer.
-- Que coisa mais mórbida...
-- Bem, morrer é uma certeza!
-- Como sabes?! Já morreste?
-- Eu presumo que não, mas quem morreu não voltou cá para nos informar, pelo que penso que...
-- Era preciso voltar alguém atrás e informar? Olha lá, quando sais de um acidente, pensas em voltar atrás? Ou queres ver-te livre dele? Para mais, se morres, quem te garante que depois de morto, pensas da mesma maneira que agora?
-- É um bom ponto...
-- Pois claro que é!
-- ...mas devo confessar que... quer dizer não ter assim uma esperança firme...
-- É assustador?
-- Sim, é isso! -- Concordei.
-- Mas olha que não é por ser assustador que fazem um mundo melhor! Suponhamos que esta vida é tudo o que há! Não achas que deviam ter mais juízo, ser mais amorosos uns para com os outros, mais preocupados em viver em harmonia com a natureza, com uma melhor qualidade de vida do que o que fazem?
-- Sim, mas...
-- Mas acham-se no direito de me pedir contas!
Percebi o ponto. De facto, se isto é tudo o que temos possibilidade de conhecer, se a vida é certamente curta e as possibilidades de sofrimento e miséria são tantas, era de esperar que como criaturas inteligentes, aproveitassemos o nosso tempo, para que este período que se nos oferece, pudesse ser o melhor possível e contudo, se já é amargo, convertemo-lo verdadeiramente em absinto.
Queria falar mais um pouco, talvez perguntar-lhe como podia participar em fazer um mundo melhor e mais fraterno, mas a voz já não me falava dentro da cabeça...


(escrito em 29/7/09)