17 novembro 2003

A Espera



Andei perdido, a tentar encontrar o amor. Sim andei no deserto sem pontos de referencia andando em círculos. Andei sequioso a encher as mãos de areia. E tu estavas lá, silênciosa na tua espera. Olhando-me embevecida, contemplando a minha ternura, amando-me por ela. As outras não a souberam apreciar como tu apreciaste. E tu nem a usufruias. Esperavas na inocência dos teus 15 anos. Amavas-me porque vias como eu amava, a ternura toda que era capaz de depositar no meu amor. Olhavas e aguardavas. Foi aí que começaste a longa espera não foi?
Lamento a minha cegueira! Uma cegueira que se perdeu à volta de mulheres belas e sofisticadas. Tu eras simples. Eu sou simples. Mas pelo desafio do difícil, amei sempre mulheres complicadas. Mas tu sabias que eu era um homem simples. Sabias que um homem simples, tarde ao cedo encontra-se e descobre que para ser feliz, tem de amar uma mulher simples. Além de simples, foste sábia. A tua sabedoria criou em ti uma fé sem nome, feita de esperança.
Sim, também eu esperei o amor de mulheres complicadas, por longo tempo. Era uma esperança estúpida, uma esperança destinada ao fracasso desde o início, que sempre fui de percorrer caminhos impossíveis. Acreditei ingenuamente que o meu querer, era capaz de ter poder e modificar o Universo. Ou como acreditam alguns, mudar as estrelas. E tu eras uma estrela, cintilante, aguardando esperançosa que eu te nota-se, desse um sinal. Mas eu olhava demasiado a negrura da noite, que me invadia a alma toda e nem dava por ti, simples, sábia e cintilante. Eu desesperava e tu esperavas, na serenidade de saber que um dia a longa espera terminaria. Quanto tempo esperaste amor?
E nem fui eu que me salvei do acaso, do vento seco que me chicoteava a pele. Não fui eu que recuperei a sanidade mental, nem tampouco me tornei sábio. Foste tu com o teu amor que me ressuscitaste de uma morte anunciada! Foi o teu amor que leu, não sei onde, em que linhas, que a minha agonia atingia a dor que é insuportável demais para se continuar vivo. E abriste a tua boca numa cura. Estendeste os teus lábios num beijo virgem e desajeitado, cheio de força. E a força da tua esperança, entregaste-ma, para que por meio dela eu vivesse ou me encontrasse. Devo-te mais do que amor, devo-te a vida. Obrigado por teres esperado. Quanto foi a tua espera?
Dez anos, não foi? Há fés que duram menos do que isso! Infelizmente continuas a esperar não é? Agora as noites são passadas nestes encontros virtuais que a tecnologia consente. E tu esperas solitária nessa cama, que eu regresse. Fala-se com todo o mundo e todo mundo fala, palavras de nada, de encontros e desencontros. Como se os nossos escritórios, as nossas salas, os quartos, qualquer lugar fosse um lugar de passagem. É como uma enorme estação, com as amizades do momento a chegarem e a partirem, ao acaso nesta gare electrónica. E tu esperas.
Esperas que mais uma vez eu compreenda a patetice de andar ao acaso na vida, e olhe outra vez o céu à noite, e descubra nele a estrela que me guia.