20 novembro 2003

Esbracejando


Havia um enorme espaço em branco onde se encontrava. Era tudo branco! Pensou num risco azul e quando fez um movimento com o braço, apareceu no branco um traço azul. Que raio era aquilo? Pensou num prado de relva verde e fresca e quando abriu os braços, o espaço branco encheu-se de relva! E foi assim, aos poucos que descobriu que era deus. Um imitador do grande, mas ainda assim criativo.
E esbracejou dias inteiros, criando recriando, inventando e voltando a inventar.
E todo aquele poder, não era capaz de lhe dar o que sentia falta. Estava só. Mesmo no meio de prados lindí­ssimos, mesmo entre as flores ou as aves que voavam no céu azul que ele criara. Era tudo bonito, mas sempre a fazê-lo triste. Tentou tantas vezes fazer gestos com os braços e as mãos, mas ela não apareceu! Nem tinha vindo espreitar os seus mundos todos criados na expectativa dela! Com as flores que ela gostava, a relva verde e fresca que ela gostava!
Mas aquele espaço continuava vazio. Sentia que ela estava distante, cada vez mais distante. Não queria que ela fosse embora, mas possivelmente ela andaria ocupada como ele, a esbracejar, criando o seu mundo, ou desfazendo-o.
E imaginou milhões de pessoas em espaços em branco como aquele a esbracejar. Pensando serem alguma coisa, talvez até deuses, e não passando de criaturas solitárias, esbracejando e continuando a esbracejar.