15 novembro 2003

O Silêncio



Não conheço nada mais cruel que o silêncio. O silêncio depois de uma pergunta. O silêncio de olhar olhos nos olhos e não haver nenhuma resposta. O silêncio da indiferença fria. O silêncio do desprezo consumado. Detesto o silêncio, todos os silêncios, mesmo o silêncio das almas tranquilas. Como dói o silêncio de uma carta sem resposta. O silêncio de uma opinião por dizer. O silêncio de quem lê e depois não diz nada. O silêncio é o epitáfio de todas as mortes.
A minha alma está num desassossego permanente, como se um ruído de fundo a agitasse em permanência. É isso que me faz falar, escrever, contar coisas! Por isso rasgo o silêncio das palvras por dizer, o silêncio do papel em branco, o silêncio do calar da dor, da esperança e da alegria. Nada sei sobre o silêncio do amor, porque talvez nem saiba do amor, que ando neste ruído à sua busca, como quem caça rapaosas. Antes de cada separação, mesmo antes de cada findar, há esse silêncio maldito e amargo a prenunciar o fim, a trazer a tristeza.
Porque não respondes quando pergunto? Porque não escreves uma simples linha em resposta às minhas cartas? Porque não me dizes se gostas, ou desgostas das coisas que escrevo?
Tenho um terrível medo do silêncio que se abate há minha volta. Faz-me sentir só, tão só.
O silêncio com me coroas, é uma coroa de espinhos e dói mais profundamente que a dor na carne.
Por isso enquanto posso labuto contra todos os silêncios que me cerram os punhos e me pesam nos ombros. Mas sinto que é em vão. É como uma doença degenerativa que nos invade e domina, e não há nada a fazer.
Também eu um dia, me cansarei de dizer coisas, escrever coisas, rasgar este silêncio mortal que nos comprime! Haverá um tempo em que o silêncio também vencerá os meus lábios, dominará as minhas mãos e inundará a minha alma.

Na minha campa podem escrever se quiserem: Finalmente em silêncio.