07 dezembro 2018

Jogo Violento




Os jogos de bilhar deviam ser considerados jogos violentos, perigosos. O fato de se jogar com bolas pesadas que podem ser usadas como autênticas armas de arremesso, o taco que pode ser usado como espada pronto a desferir uma estocada ou pela parte mais grossa a funcionar como bastão, deviam ser considerados potenciais armas letais.

Para além de toda a simbologia masculina do jogo: as bolas como representação dos testículos e o taco como símbolo fálico. Não é por nada que uma mulher jogar ao bilhar é excitante e provocador e na sequência da tese, um elemento perturbador, qual catalisador rumo ao desacato.

Quando se questiona e bem, se as touradas são ainda divertimentos com cabimento no século XXI, quando mais não são de que um circo romano dos provincianos, esquecemos esse outro jogo que por poder ser praticado numa sala, no recato do lar ou em algum recanto de um café mal afamado se joga bilhar.

Ela entrou com um vestido relativamente curto, com um decote que não era escandaloso, mas as curvas do corpo dela eram. Aliás ela era um perigo ambulante quando passeava naquele vestido, revelando contornos perfeitos. Ela nunca se atrapalhava pensando nas eventuais consequências de ser uma causadora de acidentes, de dramas. Apenas passeava desenvolta e numa leveza que apenas lhe dava graciosidade. Os velhos no jardim ficavam melhores das cataratas, os de meia-idade falavam mais alto e algum mais afoito talvez se arriscasse a um piropo. Os mais novos, tenho a certeza, sonhariam longamente com ela e alguns em ocasião mais solitária teriam lindos momentos de onanismo só a pensar nela. Não, ela não sabia destas coisas e mesmo que lhe dissessem continuaria na mesma, como se não lhe tivessem dito nada. Talvez até dissesse alguma graça, que a tornaria ainda mais encantadora.

Que tem isto que ver com jogar bilhar? Se calhar nada. É só para verem como coisas inocentes (ou que o parecem) podem ser realmente violentas, levando alguns a loucura. Talvez fujam para um desses lugares cheios de fumo (agora proibidos) onde se jogam esses jogos perversos, como o bilhar. Sempre debaixo do controlo de um relógio que marcará a despesa que temos por gastar do nosso próprio tempo! E um dia num desses lugares (sem fumo, como é próprio agora) ela entrará com a sua habitual leveza. Pegará no taco, inclinando-se sobre a mesa do jogo, onde o seu decote discreto atingirá um clímax que fará correr os impacientes para a casa de banho mais próxima. Não importa nada se ela saberá jogar, embora ela como pessoa inteligente que é, aprenderá depressa. Nas jogadas difíceis colocará a anca em cima do bilhar e o seu vestido curto subirá pela sua coxa, deixando os machos paralisados, numa espécie de câmara lenta que parecerá não ter fim, como uma paralisia que só será quebrada com o som das bolas a bater uma na outra com força. Talvez pela tensão no ar, alguém decida aplaudir, para aliviar. E se houver outras mulheres no salão sentirão animosidade e inveja aumentando a probabilidade de um confronto por uma palhinha de nada.

Quando ela se esticar sobre a mesa de bilhar para uma bola mais difícil, os homens correrão todos, para ficar por detrás dela, esperando o vestido subir, só para a ajudar a medir a geometria da pancada. Alguns esperarão que ela não leve roupa interior e terão, só na expetativa, ereções monumentais que procurarão disfarçar metendo as mãos nos bolsos. Mas o ar ficará carregado de feromonas e de testosterona e ficará pesado, denso, como aquele ar que antecede as tempestades. E sim, queira Deus que ela nesse dia use roupa interior! Porque quando o pé dela levantar do chão para dar a tacada, dezenas de homens ascenderão ao céu...

Ela sairá vitoriosa, mesmo que tenha perdido o jogo e aposto que não pagará nada, nem o tempo, nem a eventual cerveja. Quem jogou com ela, há-de ser admirado por alguns dias e depois remetido ao esquecimento, mas ela será sempre lembrada.

E ai de quem se atreva a dizer qualquer coisa negativa sobre ela! Alguma palavra depreciativa ou mesmo ofensiva pode dar origem a uma conflagração sísmica. Os tacos serão despedaçados, as bolas lançadas como pedras agrestes e selvagens. Mas ela não estará presente para ver este circo. E cheirará a suor e a sangue no salão de bilhar, com o dono a lamentar o prejuízo e sabendo a causa. Mas nunca se levantará para lhe proibir a entrada. E mais do que o prejuízo, lamentará que ela não vá mais vezes. Porque tem a ideia que é o ela ir lá raras vezes que lhes dá mais raiva e impulso.

Realmente o bilhar é um jogo que não se deve recomendar na educação de uma pessoa de bem. É coisa de criminosos, presidiários e homens sem ocupação. Devia ser proibido. Acho que apenas mantêm esses espaços abertos, com a esperança que ela um dia entre e os ilumine! O bilhar é realmente um jogo violento...

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