30 janeiro 2004

Triagem de Manchester



Leia antes esta notícia (está em inglês)

O Primeiro recomendara a maior descrição, iríamos reunir-nos na sua quinta em preparação para a habitual reunião do conselho. Levei um bloco de apontamentos, e pedi ao motorista que me deixasse e só voltasse quando eu o chamasse.
Em breve todos os que o Primeiro convocara estavam lá. Tomamos um café, e dirigimo-nos para uma das salas. Um dos homens da segurança verificou com um aparelho se havia alguns dispositivos de escuta, mas a sala estava limpa.
-- Pedi-vos para aqui virem, porque tenho um assunto da maior urgência a falara convosco... -- começou o Primeiro. -- O raio da Saúde gasta mais do que todos os outros juntos!
A das Finanças abanou a cabeça em concordància.
-- Qualquer dia, os impostos vão todos para pagar salários aos funcionários e a porra dos gastos da saúde! -- continuou furioso o Primeiro. -- Quero soluções!
Falou o da Saúde:
-- Primeiro, compreendo o seu mal-estar, mas que é que quer? Todos os velhos, recebem reforma e vivem à custa de remédios!
-- Nem percebo como conseguem comprar o carago dos medicamentos com as reformas que lhe pagamos... -- murmurou a das Finanças.
-- É um milagre! -- acrescentou o da economia.
De facto viver com uma reforma miserável, comprar medicamentos que levavam metade ou até mesmo a reforma por inteiro, era inacreditável como alguns reformados ainda conseguiam viver.
-- Quero soluções! Raios partam! -- Vociferou o Primeiro. -- Qualquer dia num há dinheiro para a nação nos pagar! Querem ir para o desemprego? Vão viver de quê, seus imbecis?
Ficaram calados. O da Economia abriu a boca:
-- Em Inglaterra tiveram o mesmo problema...
-- Ai sim? E como resolveram a coisa?
O da Saúde aproveitou para falar:
-- Fizeram um novo método de triagem...
-- Que raio é isso? -- perguntou a das Finanças.
-- É o que tu tens para perdoar impostos à Banca, e deixar prescrever dívidas ao fisco ao Amorim... -- atirou o da Economia.
-- ‘Tás muito engraçadinho, vê lá se queres que te corte o orçamento... -- rosnou a das Finanças.
-- Por favor, senhores! -- disse o Primeiro. -- Estou a tentar resolver o carago de um problema sério, não estou aqui para brincar à apanhada!
O da Saúde voltou a falar:
-- Os ingleses, começaram a fazer triagem nos hospitais... Determinavam nessa triagem quem seria atendido em primeiro lugar...
-- Traduza lá para a gente perceber... -- comentou o da Economia.
-- Quer dizer que eles não atendiam toda a gente com o mesmo grau de cuidado... Havia alguns que podiam esperar...
-- Estou a ver... -- sorriu a das Finanças.
-- Explique lá melhor, por favor... -- pediu o da Economia.
-- Doentes crónicos, que só se penduram no sistema de segurança social, e nunca ficarão curados eram relegados... Da mesma forma os reformados...
-- E isso resolve alguma coisa? -- perguntou o da Economia.
-- Claro que resolve! -- vociferou a das Finanças -- Se morrerem poupamos em tratamentos e com sorte em reformas e em baixas! Percebe agora?
Percebia-se claramente.
-- Ahhhhhh... -- disse espantado o da Economia. -- Dessa só um nazi é que se lembrava!
-- Não seja parvo! -- ripostou a das Finaças.
-- É uma excelente ideia! -- aprovou o Primeiro.
Ficou tudo calado.
A das Finanças voltou a abanar a cabeça em sinal afirmativo.
-- Já repararam? -- convidou o Primeiro. -- As nossas famílias não serão afectadas, temos seguros de saúde, clínicas privadas e reformas gordas. Ah Ah Ah...
O riso do Primeiro soou num tom sinistro.
-- Quero isso aprovado no próximo conselho. Conto com o vosso apoio. -- concluiu o Primeiro.
-- Já agora como se chama esse método de triagem tão interessante? -- Quis saber a das Finanças.
Responde o da saúde:
-- Triagem de Manchester...

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