07 fevereiro 2004

Um dia f...


Há dias que parecem o retrato de uma vida. Este foi um deles. Tinha combinado sair mais o Zé e o Paulo, iríamos à praia no buggy que o Paulo cravara ao tio. Lá estava eu com a toalha pendurada no ombro, sentado na arca térmica com as cervejas para a tarde e com a bola de vólei debaixo do braço quando eles apareceram na esquina combinada.
Vi logo que a coisa não ía correr muito bem, porque as namoradas vinham com eles.
-- Pedro, -- disse o Paulo -- vais ter de ter paciência mas hoje num dá... Elas quiseram vir...
-- E o buggy só leva quatro e apertados! -- riu o Zé.
E arrancaram, como se o que eu merecesse fossem meia--dúzia de palavras, para desmarcar um acontecimento planeado há meses. Tudo por causa de umas cabras de umas namoradas arranjadas à pressa.
Fiquei mesmo a ver a cena da orgia que se ía desenrolar, e aquilo deu--me cá uma volta no estômago que tive vontade de abrir a arca e beber as cervejas todas até cair para o lado. Mas depois...
Se os rapazes se iam divertir eu também ía. Voltei a casa e consultei a minha agenda. Depressa me dei conta que tinha cultivado poucas amizades com miúdas, mas mesmo assim enchi o peito de ar e fui à luta.
Liguei para a Alda:
-- Estou...Quem fala? -- perguntaram do outro lado.
-- É o Pedro a Alda está?
-- Não, a Alda saiu mais o namorado, foram ao cinema...
-- Ok, obrigado. -- E desliguei.
Ao cinema uma ova, com o dia lindo de sol que estava, a puxar para a pouca roupa, a Alda tinha ido era para a ‘brincadeira’ mais o namorado.
Tentaria outra.
-- Olá! A Joana está?
-- Está, mas está a dormir, veio ontem da discoteca muito tarde...
Mais uma que tinha andado no martelanço toda a noite e estava estupidamente a dormir de cansaço e a perder um dia lindo. Mas ainda não era altura de desistir.
-- Olá Vi, como vais?
-- Eu? Porquê? -- a coisa não começava bem.
-- Hoje tá um dia lindo pensei...
-- Pensaste o quê? -- o tom era mesmo agressivo. Mais tarde soube porquê: Ela tinha rompido com o namorado! O gajo disse que queria casar virgem e a Vi, chamou--lhe maricas, mas como gostava muito dele, nem sequer cogitou tirar a desforra.
-- Pensei se gostarias de vir comigo até à praia... Tenho cervejas fresquinhas...
-- Ah bom... -- o tom pareceu amenizar, e achei que talvez viesse ainda a ter sorte. -- E depois vamos ao cinema?
-- Se tu quiseres...
-- E depois do cinema... -- disse ela com voz muito suave, -- queres vir a minha casa, subimos até ao quarto?
A ideia parecia-me espectacular!
-- Sim, sim! -- disse eu.
-- Fazemos sexo? -- perguntou ela.
-- Se tu quiseres! -- era claro que eu queria.
-- Olha... -- disse ela suave como veludo, e depois numa mudança de tom surpreendente disparou:
-- Quero que te vás f... -- e desligou.

1 comentário:

Ju_Uninspired.. disse...

Escusado dizer que cai aqui por acaso...e adorei ;)