06 fevereiro 2004

Deixa-me


A vida às vezes é tão complicada que se armadilha e entretece no objectivo de nos tornar loucos! O amor, ou a sua ilusão são a maior das loucuras. No fundo andamos todos frustrados à procura da felicidade.
Viciamo--nos no sexo, nas drogas ou no trabalho, e são paliativos para este vazio que sentimos dentro e que cresce e se adensa até ocupar todo o nosso íntimo. É perverso, uma doença muito pior do que o cancro. E o que se faz? Há muitas estratégias e todas elas são inúteis, porque não há nada a fazer. É somente um engano julgar que podemos ser felizes. Ou então se o somos, é porque somos ignorantes em qualquer sentido e a futilidade da vida não nos consegue alcançar. Creio que é também por isso, que preferimos consumir ao invés de pensar.
O consumo é outra droga.
Fiquei sem ela há muitos anos atrás. Pensava ter deixado isso num lugar remoto, mas afinal transportei essa mágoa o tempo todo. Sim, eu sei o que perdi...
Também eu outrora abriguei sonhos e vivi. Desisti dele, do sonho mais belo e passei a morrer, a acomodar--me, a desistir, a não me importar.
Na ausência dela, aprendi a ausentar--me. Era a minha maneira de lidar com a dor.
Amei o quanto pude e o quanto não devia. Talvez fosse demasiado amor para uma pessoa só, e depois disso andei a distribui--lo conforme calhou ou pude ou deixei. Não me importava.
Acho que ainda hoje não me importo. Andei assim sem rumo ao acaso, ao sabor do vento. E fui tombar no que sou hoje.
Não me apetece lutar, nem ter sonhos. Já me disseram que esta é a estratégia do zombie, mas não leva a lado nenhum, é apenas desperdício.
Às vezes acho que a vida é isso mesmo.
Queria ter uma esperança, mas morreu quando a deixei partir. E como é a última coisa a morrer (a esperança), demorou muito a partir.
Chegou agora a altura de te enterrar! De me libertar da esperança que tu encerras ou da dor, ou de tudo o que quis que fosses na minha vida. De tudo aquilo que te deixei ser na minha vida. Desculpa!
Mas tens de deixar de me perseguir por entre as minhas memórias e o meu desejo de amar em plenitude. Não tens lugar aqui. Não podes ter ou endoideço ou morro, porque ando por aí. Morto.
Deixa--me resssuscitar e partir de novo pelo resto dos caminhos que me restam ainda. E se não puder ser feliz, deixa--me pensar que ao menos posso tentar!

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