11 dezembro 2003

Meiguinha


vela
A notícia atingiu-o como um soco em cheio na boca do estômago. Contorceu-se numa agonia esquesita que lhe tirou a vontade de brincar. Meiguinha morrera num acidente. Tinha 19 anos.
Como pode morrer alguém que ainda nem sequer vivera por completo?
Não mais a ía encontrar nos espaços que um dia partilharam. Todas as mortes o revisitaram. Todas as saudades. Toda a impotência e frustração, o ter de aceitar o que era inaceitável!
A morte não é um inimigo. É apenas a sombra que nos persegue, com sol e sem ele.
Havia raiva em cada punho fechado, e nessa dor, lágrimas que teimavam em aflorar os olhos. Meiguinha nunca mais voltaria a cerrar os punhos, nem a chorar.
Amanhã as coisas voltariam á sua rotina, mas já não seria a rotina dela. Tentou imaginar os pais, os irmãos, os amigos. Em todos eles havia agora um vazio, que nada podia preencher.
Foi um acidente...
Mas o acidente maior mesmo, é nascer.