20 março 2019

TESSARACTO



Dos fatores de 30 que traduzem o privilégio de ser branco, macho e rico, decompondo-se na descida de um nível ao perder um privilégio, só um, à escolha: branco, macho ou rico. Não compreendo plenamente a matemática, já que há privilégios que não tens muita escolha: ou és branco ou não és, ou és macho ou és fêmea mesmo que te sintas uma graduação intermédia. Talvez a única escolha possível seja mesmo a de ser rico ou não...

Ouvi-te rir. E riste-te bem, porque é cómico apresentar a possibilidade de ser rico como uma escolha. Não é de todo, pois se fosse todos escolheríamos ser ricos. Portanto, o que podes escolher é ser pobre, se tiveres a fortuna de ser rico. Porque se fores pobre, dificilmente te tornarás rico. Podia alongar-me numa reflexão de como se chega a rico, mas todas as fortunas, têm na sua larga maioria, derramamento de sangue. Pelos menos as grandes fortunas.

Houve tempos em que nos salvaram a todos do comunismo por nos darem um Estado Social, em que se garantia um mínimo de subsistência, onde ainda nos iludiam com alguma migração social no sentido ascendente. Um pobre às vezes ascendia a uma pequena burguesia remediada e o burguês mediano ascendia um pouco mais a ponto de se julgar afortunado e fazer férias a crédito em Cancun e provar petiscos novos da cozinha “gourmet”. Agora só uma fina camada social compõe esta classe média-alta, e a camada vai ficando cada vez mais fina.

Dizem que ganhamos mais, que os rendimentos per capita aumentaram no mundo todo, mas que não aumentou a felicidade. São coisas estranhas estas das estatísticas, pois é difícil perceber como pode aumentar a felicidade humana, quando 1% da população detêm 80% de toda a riqueza do mundo. No final as estatísticas dizem que se formos 3 e comermos dois frangos o desgraçado que não comeu nenhum pedaço, por artes mágicas ainda se lambuzou com 2/3 de um! E certamente com tanto, ficam surpreendidos que não esteja feliz? E se apenas um de nós três se banquetear com os dois frangos, teremos dois infelizes, mesmo que estatisticamente sem razão.

Há estas construções cúbicas, os factores de 30, que não apenas se deformam mas que se conformam numa implosão. Olhamos friamente os números, esvaziados de pessoas e de rostos. Um tessaracto social que não encaixa neste mundo, aonde falta a dimensão humana.

Para ajudar a compreender ver esta conferência TED.

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