Capítulo Terceiro
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Um dia em que deambulava pelos corredores da casa grande, com a mão ao longo da parede, a criança apanhou-o de surpresa e perguntou-lhe:
“Quem é a Leonor?”
Ele nunca tinha falado no seu nome, porque não precisava. Ela era uma memória indelével e perene. Mas agora o uso do seu nome alterava tudo. E respondeu:
“Leonor, é quando a tua boca se enche de flores e os teus lábios ficam macios como pétalas. É quando na tua boca há o mel e as fragrâncias agradáveis te inundam o palato…e te assaltam recordações felizes da tua infância.”
“Leonor é o calor do Verão, temperado por uma brisa fresca. É o melão que refresca e revigora. A laranja que se desfaz em sumo, o morango que te adoça a boca. A água morna que escorre pelo teu corpo e te dá a sensação de que és novo outra vez.”
“Leonor é o jardim cheio de flores, os perfumes que te entontecem e te fazem respirar fundo. O zumbido das asas das abelhas recolhendo pólen, o cantar dos pássaros felizes, porque há abundância e renovação.”
“Leonor é o Sol quando pinta o céu no horizonte em todos os tons de fogo que possas escolher. Ela aquece a alma e faz sorrir.”
“Leonor é o sonho que acontece…”
E abruptamente a criança interrompeu e com uma vozinha cândida perguntou:
“Leonor é Deus?”
Aquilo soou-lhe profundamente blasfemo e ao mesmo tempo, como minhocas que revolvem a terra e aparecem finalmente à luz do sol, um pensamento dizia-lhe que Leonor não era Deus, mas podia provir Dele. Mas o pensamento ainda era confuso como a minhoca que à luz do Sol, apenas consegue revolver-se a ver se se enfia na terra outra vez.
Preferiu responder seco:
“Não sei.”
E depois com um jeito traquinas acrescentou:
“Mas nunca podia ser deus, apenas uma deusa!”
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