26 janeiro 2004

A vida e a morte, num breve apontamento


Não sei porquê, gosto mais das pessoas depois que morrem. São todas boas, como se a morte por milagre limpasse do registo todas as sacanices que fizeram em vida. E quanto mais importante o personagem, tanto mais as manifestações de pesar e de homenagem parecem ser amplificadas.
Até na morte há uma distinção social entre os que "são alguma coisa" e os "que nunca foram coisa nenhuma"!
Morrem uns miúdos intoxicados por monóxido de carbono, e prontos olha, azar! Mas já imaginaram? Porque tinham o esquentador na casa-de-banho? Porque não tinham o esquentador na cozinha, ou a instalação bem feita? Eu digo-vos amigos: Condições económicas! Eram pobres! Terem um esquentador já era luxo suficiente, assim não tinham que aquecer água ao lume numa panela e tomar banho numa bacia de plástico! Ainda há muita gente que toma banho assim, neste jardim à beira-mar plantado. É pena que seja um jardim de urtigas para a maioria. Estas duas crianças não precisavam ter morrido. Foram mortes plenamente evitáveis, desnecessárias, um crime no sentido da palavra.
Outros morreram, porque morreram. Não havia nada a fazer. A vida é assim, uma espécie de relógio, um dia pura e simplesmente não tem mais corda. Acaba-se!
É uma tragédia, mas é incontornável. É a tal morte da qual não se pode fugir, mesmo quando apanha alguém cedo na vida.
Lamento. Mas lamento essa, tanto quanto todas as outras.
Sonho um mundo sem morte, onde seremos todos eternos e felizes. Onde mesmo os mortos terão outra oportunidade e voltaram, aí sim, livres de todos os erros passados. Depois poderão escolher se quer repeti-los, ou se vão aproveitar a segunda oportunidade para serem melhores no sentido mais humano de ser melhor.
Sim acredito nisso, porque se não a vida é ainda mais vazia de sentido do que a futilidade actual, e acho a vida demasiado preciosa para se perder em futilidades.
Corram atrás do que quiserem, de uma bola ou de um tempo que sempre nos atraiçoa e nos condena e nos engole no esquecimento.
Prefiro correr atrás de sonhos que tenham sentido e que valham a pena.
Prefiro as ilusões nobres às realidades patéticas e perversas. Prefiro pensar no futuro, do que chorar o passado.
Prefiro sonhar a vida, do que viver a morte!

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