12 janeiro 2004

Joana


Há dias em que acordo como cego.
Em que olho à volta e nada vejo, ou melhor o que vejo não corresponde ao que lá está. É pura imaginação. Como quando sonho com a Joana, nos seios dela, na curva das costas, na pose que ela faz. A Joana é uma gata que ronrona, que arranha e que no fundo me consegue dar a volta à cabeça. Mas a Joana não existe! Ela é uma pura criação da minha cabeça ou dos meus desejos. Embora me sinta quase levado a concluir que ela é o meu corpo a ultrapassar a frustração.
Não entendo nada disto muito bem. É como os pesadelos. Para que raio de coisa queremos os pesadelos, se a vida já por si, é pesadelo que baste? Será que a nossa mente conserva uma matriz sádica?
No meu caso acho que deve até estar exacerbada essa matriz, porque até sonhar, em especial com a Joana, é no mínimo sadismo puro. Acordo com a boca a saber aos beijos dela, e ela não existe! Podia procurá-la em todos os lugares do mundo, que ela existe apenas na minha cabeça, nos meus sonhos ou quando penso nos sonhos que tive!
Será que isto é endoidar?
Ou à falta de bons programas de televisão, o cérebro compensa com isto? De facto sou pessoa de ver pouca televisão, quase nenhuma. Dantes era um viciado em telejornais, conseguia ver diversos ao mesmo tempo e depois ainda apanhava por inteiro os que davam em horas desencontradas. Mas agora, já não consigo ver as notícias e manter o meu juízo perfeito. As injustiças são tantas, que se continuar a ver as notícias me converto de certeza em terrorista!
Mas se calhar é mesmo para ser assim. Os políticos precisam de terroristas, para justificarem o seu terrorismo de estado.
Mas percebem agora porque o meu cérebro prefere a Joana, não?