16 janeiro 2004

Há coisas dos diabos!


Tudo não passaria de um caso comum de mal-entendido, mas os males entendidos nos dias actuais têm tendência a converterem-se num drama, e sem quê nem para quê, este foi um desses tristes casos.
O rapaz ía apressado, todas as testemunhas são unànimes nesse ponto, mas quando ele encontrou o outro sujeito estava longe de imaginar que a sua vida andava no fio da navalha. E acabou por escorregar num dos deslizes impensáveis, que caiem na categoria de improvável! Mas a natureza gosta de confirmar o facto de que embora improvável existe sempre a remota possibilidade de acontecer, ou seja, é improvável mas não de todo impossível. Depois as regras do acaso fazem o resto.
O rapaz avançou na passadeira sem perceber que o camião vinha um nadinha acelerado para aproveitar o sinal verde, que na perspectiva do camionista estaria quase a cair. Destas duas percepções, tanto uma como a outra estavam redondamente desajustadas, deu-se o inevitável: O camião bateu violentamente no rapaz, que foi projectado alguns metros fora da passadeira.
Juntaram-se os mirones habituais, e tal como em todas as coisas improváveis, o espanto começou a tomar conta das pessoas que iam ouvindo a história. Afinal o rapaz era professor do filho do camionista, e como demorara um bocadinho mais do que o habitual para arranjar um estacionamento, atrasara-se. Se fosse um dia de aulas normal, não haveria problema chegar um pouco atrasado, o contínuo segurava os míudos dez minutos, tempo mais do que suficiente, para ele chegar. Mas naquele dia havia um teste, e era precisamente à turma à qual pertencia o filho do camionista. Mais ainda, o professor atrasara-se porque de manhã o carro não pegara, estava com a bateria em baixo e quem o desenrascara fora o irmão do camionista que era mecànico e estava a caminho da oficina!
Mas as coincidências ainda não tinham acabado! O polícia que entretanto chegou para fazer a participação do sinistro era casado com a prima da esposa do professor. O médico do INEM que ocorreu ao local era sobrinho do camionista, e o bombeiro que conduzia a ambulància era vizinho do polícia que fazia a participação e o filho andava na mesma escola onde o professor dava aulas, sendo colega de turma do filho do camionista!
Como alguém resumiu muito bem: Isto é uma coisa dos diabos!

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