20 janeiro 2004

Um toque


Não sei porque ainda me lembro de ti, e te mando toques para o telemóvel. Nem sequer respondes, como se o teu tempo, não pudesse dar para o meu tempo. Nem era grande coisa o que esperava de ti, apenas uma retribuição, um toque teu. Mas não. Deves estar cheia de razões para não me ligar de volta. A maior de todas é que deves ter vergonha, porque dizias que me amavas e não passava tudo de uma enorme imposturice. Nunca me amaste, mas quiseste pensar que sim, que amavas. Como podias amar, se tu desconhecias até então o significado do verdadeiro amor?
Ficaste maravilhada quando to dei a descobrir, mas ao mesmo tempo assustada. Amar era dar. Dar dessa maneira como eu te mostrei, desprendida, sem olhar a consequências. Amar loucamente e sem condições. Foi demais para ti.
Não tens culpa. Apenas tens culpa de um corte tão radical. Podias ter ao menos ficado grata. Mas nem isso. Não admira, este mundo é ingrato e tu ainda fazes parte dele. Eu não. Sou um velho e os velhos têm o condão de pertencer a um tempo que se vai esquecendo. Por isso os velhos se esquecem, nesta corrida de andar para a frente, a um tempo onde tu também serás velha, e onde espero te recordes de mim. Será tarde nessa altura, mas é uma espécie de consolo que ainda conservo. Sei que terás saudade das nossas conversas, terás até mesmo saudades das coisas simples como um toque de telemóvel.

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