Velhice
Foi só quando bateu com a cabeça na viga, tarde demais, que compreendeu que as coisas não estavam iguais! Sim agora dava conta de distrações bacocas a meterem-se de permeio e a dar-lhe cabo da vida, naquele caso da careca, agora com um bruto lenho.
Praguejou o tempo devido para fazer efeito e sentir-se em condições de chamara mulher que como é típico das mulheres se mostrou preocupada.
-- Mas tens aí um lenho!
-- Isso sei eu carago! -- Eram ainda os restos do praguejar. -- Vê mas é se me desinfectas isto.
Lá foi a mulher pressurosa encontrar a água oxigenada, que para seu mal também se fez difícil, e só apareceu depois de alguma luta.
De facto notava que a vida não corria com a mesma ligeireza de antigamente, e sentiu-se incomodado com o facto. Não sabia se havia de culpar os tempos, que o desatinavam, ou o seu próprio tempo! Possivelmente era as duas coisas, numa conclusão de consenso.
Mas a realidade, é que os anos começavam a querer cobrar o seu tributo. Sentia um amargo de boca, agora que começava a compreender melhor o seu próximo, a ganhar enfim, alguma sabedoria, é que a vida decidia brincar com ele! Não havia muito a fazer...
A mulher desinfectou-lhe a cabeça, agora tinha uma cicatriz de guerra! Subira ao sotão para examinar donde viriam as manchas de humidade no corredor, e tivera dois azares: O primeiro uma fuga numa das emendas dos tubos de água, a segunda uma bela cabeçada na viga. Se o primeiro azar era uma contingência de ter casa, o segundo devia-se certamente a si próprio e às suas faculdades nitidamente em perda.
Via-se como os reformados da terra, à procura do banco de jardim mais soalheiro, um boné enfiado na careca e conversas da treta. Recitando conquistas heróicas de tempos passados, ou dizendo que 'Dantes é que era bom!' Quando a memória já esqueceu tanto, que possivelmente só fica o que foi bom, nessa arte que o nosso corpo tem de ser mais inteligente do que nós.
Era velhice!