05 fevereiro 2004

Tudo


Dantes éramos capazes de sonhar em conjunto. Hoje não falamos, nem sonhamos. Talvez se tenha perdido algo. Ou talvez tenha de ser assim, neste tempo de relações passageiras, alimentadas de bytes e de bits. Acho que a mim são cada vez mais bits (=pedacinhos?).
Acho que a virtualidade cria, recria e desfaz os sonhos, mas não é um sonho. Porque um sonho desfaz-se na manhã ao acordar, e podemos olhar para o lado e encontrar algo ou alguém. E serenamos as inquietudes, ou aumentamo-las, mas que importa? Sempre há alguma coisa que nos toca, nos atinge.
Talvez por isso te afastes. Não porque queres, mas antes porque queres outra coisa, mais palpável, mais real, mais sensível. A virtualidade amputa-nos.
Sim, soube disso quando me pediram que viajasse e fosse em pessoa resolver um assunto importante. Não consegui sair de casa. Dei por mim prisioneiro do conforto, do comodismo, do estar. Para quê sair e enfrentar o frio e a realidade das coisas, quando daqui, da segurança e conforto do lar, posso chegar a todo lado?
Sim, ela pediu--me que se a amasse, não lhe desse toques de telemóvel ou mandasse mensagens, nem queria teclar comigo, nem ver-me na webcam... Queria sentir o calor do meu corpo, a carícia das minhas mãos, o meu corpo...
Não consegui e apesar de tudo...
A virtualidade tira-nos tudo e ela era tudo!

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