14 fevereiro 2004

O dia das coisas comuns


Hoje é o dia das coisas comuns. Não das coisas que são pertença do dois, mas apenas das coisas que partilhamos e que por isso nos são comuns. São poucas coisas, porque coisas não são importantes, o que é importante é os sentimentos que elas nos suscitam.
Por agora temos poucas coisas em comum, provavelmente ficaremos por essas poucas coisas, sem lhe darmos a importància que merecem.
São coisas que marcam um luto, uma espécie de prenúncio de fim, porque não há muitas lembranças à volta destas coisas comuns. E contudo desejo que haja, faço um esforço por carregar estas coisas de memórias, amargas e doces. Mas tenho dificuldade, como se nunca tivesses tocado nessas coisas, como se nunca tivessem sido tuas. É uma ausência...
Queria lembrar o teu perfume, ou a saia que costumas usar, ou o teu soutien preferido. Procuro com o olhar os frascos de perfume na cómoda tentando adivinhar o que mais usas e não consigo. Abro a porta do guarda--fatos e não sei qual é a saia. Abro a gaveta e vejo muitos soutiens, mas não sei qual preferes.
Hoje é o dia das coisas comuns, da rotina, e contudo por ser de todos os dias, está vazia. Talvez sejam as nossas vidas que estão vazias. Talvez sejamos nós que nos esvaziamos de sentido, partilhando lugares comuns que não nos dizem nada. Esvaziamos tudo, até as coisas comuns...

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