12 setembro 2021

Chegas tarde

 

Photo by Nuno Alberto on Unsplash

 

Chegas tarde. Sempre chegaste tarde, desde que me lembro. É por isso que encontras sempre as portas fechadas, ou quando chegas à estação, o comboio já partiu. Não sei se isso foi uma coisa adquirida ou se é genético, ou se não passa de uma maldição.

Essa tua chegada tardia, encurvou-te, tirou-te o sorriso dos lábios, se bem que note da tua parte um esforço por sorrir ainda. Acho que tens uma réstia de esperança de que um dia chegues a tempo e possas ir na boleia de uma boa oportunidade. Faço votos que um dia chegues a tempo. Juro. Assim como é, sais sempre magoado, frustrado. É uma pena andar na vida sempre a perder. Mesmo que às vezes seja apenas por um bocadinho assim…

Gostava de te ajudar, mas o teu chegar tarde, não é um problema de falta de relógio. É só mesmo uma questão de sentido de oportunidade. Essa falta de oportunidade às vezes torna-te ridículo. Não gosto de te ver assim. Preferia que algumas vezes, pelo menos, acertasses.

Talvez um dia quando a morte estiver para chegar, tu acertes pelo menos uma vez, e falhes o encontro e vivas. E se essa tua tendência for algo de genético, quem sabe, talvez te tornes imortal, mas não creio que te tornes feliz alguma vez. Ou a única alegria tua será uma vida inteira de castigo, de falhar sempre.

Respira fundo. Sempre suspiraste profundamente, como quem tira um peso dos ombros, para continuar a caminhada, procurar uma nova oportunidade de ser feliz. É patética a tua persistência, tens de ter a noção disso, não tens?

Não te importa, bem sei. Já nem acenas no cais às oportunidades perdidas. Pura e simplesmente encolhes os ombros. Nem sequer choras. És até capaz de rir quando vês que a oportunidade já se foi. Às vezes sei que te dói, umas vezes mais do que outras. Mas presumo que a maior parte das vezes tenhas a boca amarga.

Esse perpétuo chegar tarde deve ser a tua missão na vida, nesta vida. Temo até que fiques tão traumatizado que não queiras mais nenhuma.