16 fevereiro 2004

Plug-In


-- Ei Márcia já viste o meu último bio plug-in?
-- Não! Que curtição é?
-- Aqui na língua sob a forma de piercing! Tás a ver? -- disse a Juliana metendo a língua de fora, onde uma bola de um cristal azul iridescente fazia a sua aparição. -- Esta bola tem um produto à base de flúor e vai libertando lentamente o seu conteúdo. Quando gastar depois troco por outra. Evita as cáries! Mesmo que num possa lavar os dentes...
-- Que fixe! Isso é porreiro! Sabes que a Paula mandou meter um piercing piezo-electrico na coisinha?
As duas riram--se, mas acho que mais com dor de cotovelo que outra coisa!
-- Por isso é que ela às vezes fica com um brilho no olhar! -- e riram-se outra vez.
-- Pois é! Aquilo de vez em quando vibra e põe-na a vibrar! -- concluiu a Juliana.
-- Será que os rapazes também tem dessas coisas? -- perguntou a Márcia.
-- Os rapazes num precisam, tão sempre a vibrar! -- e voltaram a rir.
-- Os rapazes agora usam é uns no nariz, que dizem que liberam coca...
-- Sério?!
-- Eu sei lá, ouvi dizer que era ilegal, mas sabes como é!
-- O namorado da Xanoca, colocou um piezo-electrico na orelha, diz que curte melhor a música!
-- Isso num é nada, o amigo do Pedro, implantou um atrás da orelha que veio do Japão e ouve mp3!
-- Ena, esse deve ser muita fixe! Cool à brava!
-- Não Cool mesmo, é o da Mara no umbigo!
-- Atão?
-- Controla o apetite! Assim ela pode conservar sempre aquele corpinho de miss.
-- Que fixe! E sabes onde se arranjam desses?
-- Ó pá num sei, mas a gente pergunta-lhe!
E voltaram a rir. Presumo que um qualquer plug-in poderia contribuir para isso.

14 fevereiro 2004

O dia das coisas comuns


Hoje é o dia das coisas comuns. Não das coisas que são pertença do dois, mas apenas das coisas que partilhamos e que por isso nos são comuns. São poucas coisas, porque coisas não são importantes, o que é importante é os sentimentos que elas nos suscitam.
Por agora temos poucas coisas em comum, provavelmente ficaremos por essas poucas coisas, sem lhe darmos a importància que merecem.
São coisas que marcam um luto, uma espécie de prenúncio de fim, porque não há muitas lembranças à volta destas coisas comuns. E contudo desejo que haja, faço um esforço por carregar estas coisas de memórias, amargas e doces. Mas tenho dificuldade, como se nunca tivesses tocado nessas coisas, como se nunca tivessem sido tuas. É uma ausência...
Queria lembrar o teu perfume, ou a saia que costumas usar, ou o teu soutien preferido. Procuro com o olhar os frascos de perfume na cómoda tentando adivinhar o que mais usas e não consigo. Abro a porta do guarda--fatos e não sei qual é a saia. Abro a gaveta e vejo muitos soutiens, mas não sei qual preferes.
Hoje é o dia das coisas comuns, da rotina, e contudo por ser de todos os dias, está vazia. Talvez sejam as nossas vidas que estão vazias. Talvez sejamos nós que nos esvaziamos de sentido, partilhando lugares comuns que não nos dizem nada. Esvaziamos tudo, até as coisas comuns...

13 fevereiro 2004

Viriato, a verdadeira história!


A história de Portugal tá toda muito mal contada! Veja-se o caso de Viriato. O Viriato nunca foi traído na vida! Os romanos é que inventaram essa da traição para não revelarem uma das mais impressionantes acções dos serviços secretos de toda a história! O que se passou foi que os romanos fartos de ver morrer os seus, por que o nosso Viriato matava romanos como quem mata moscas, foi o Caio Vetilio, o Caio Lucitor, o Caio Plaucio e até o Pretor Claúdio Unimano que era maneta que apanharam derrotas que até o César se chateou. Então os serviços secretos romanos contactaram o Viriato por intermédio daquele que ficou conhecido como o traidor, para lhe propor o seguinte:
-- Viriato, num tás farto de andares por aqui pelos montes a matar romanos?
-- De facto, o que me apetecia era conhecer outras terras... Estou farto de Lobriga! E os romanos estão a ficar moles, e fogem de visitar aqui os montes Herminios... Nem sabem apreciar a beleza disto! A neve... Praticar esqui...
-- Não te zangues pá, mas os romanos vieram ter comigo...
-- Ter contigo para quê? Já sei! Filhos da p...
-- Não pá, num era nada disso.
-- Traidor! Queriam arruinar a paisagem construindo um hotel aqui em Lobriga! Enchiam isto de turistas, e lá se ía o meu sossego! Traidor!
-- Num sou nada pá. O que os gajos querem até que é fixe. Sabes bem que estes romanos um dia zangam-se e vêm por aí...
-- Esses montes de bosta? Mas tu és parvo?
-- Olha... ouve com calma... O que os gajos querem é o seguinte: Tu finges que és morto e eles levam-te para a Bretanha, uma ilha com gajos bravos como nós. Os romanos fizeram uma muralha pra ver se os continham mas não os conseguiram vencer. Eles respeitam aqui a nossa gente, deixam--nos viver à vontade, mas já sabes, tens de ir até à Bretanha e desancar nos gajos, que achas? Sempre é melhor que morrer com uma faca nas costas!
-- Lá nisso tens razão! E como é o clima lá?
-- Dizem que é parecido com isto, só que tem mais nevoeiro.
-- Que se lixe o nevoeiro... E quais são as contra partidas?
-- Bem, tudo o que conquistares aos gajos da Bretanha é teu. Só tens de impedir que passem a muralha que os romanos construíram. Além disso fazem das tuas filhas esposas de senadores romanos com direitos sobre as províncias da Ibéria. E a nós deixam--nos ser proprietários, desde que paguemos um impostozito de vez em quando ao César. Só pra não dar muito nas vistas...
-- Ok.

E foi assim! Esta é que é a verdade! A grande família Silva, não é mais do que o nome genérico dado a todos os senadores romanos casados com lusitanas (as filhas de Viriato)! Daí que hoje haja tanto Silva neste país.
Por outro lado, se nunca compreenderam porque o tratado mais antigo entre nações é a Velha Aliança entre Portugal e Inglaterra, agora já entendem não é?
Foram os descendentes de Viriato na Bretanha que por tradição secreta, aliás os Cavaleiros da Távola Redonda, não eram mais que homens fiéis a Viriato, e depois os descendentes que de geração em geração conservaram esse segredo.
Não se podem esquecer que esta era uma operação secreta romana, para subjugar os bretões!
Historiadores suspeitam também que a Irlanda tenha recebido a visita de Viriato que aí estabeleceu colónias, mas é apenas ainda uma suspeita, apesar de se reconhecer hoje que as populações Celtas da Irlanda são cronologicamente mais recentes que os Iberos! Portanto parece haver algum fundo de verdade nessa suspeita.
Por isso meus amigos, a verdade é que nunca um lusitano traiu outro lusitano! Mas antes que o nosso Viriato trocou a paz da Ibéria pelo controlo dos bretões ao serviço de Roma!

12 fevereiro 2004

Carta de Amor e Despedida


Amo-te. Não te restem quaisquer dúvidas quanto a isso. Um amor intenso e doido, como é afinal, típico de todos os grandes amores. E não é isso que todos buscamos nesta vida? Amei sempre muito, em contrapartida apesar de amado, nunca me senti plenamente amado, como tu. Podia ser contigo mas...
Foi um sonho, um desejo, algo que podia ser tudo mas nunca podia ser um grande amor.
Não sei porque a vida tem de ser cruel assim. Cruel para mim, para ti; mesmo quando te vestes de teenager e sonho abraçar-te.
É como todas as coisas impossíveis, uma dor, tudo o que resta. A distància, a vida, a tua e a minha, vida que como vês afinal nunca foi nossa. Somos como dois arcos tangentes, e o nosso encontro não passou de um momento. Por isso mesmo sem querer deve tudo terminar por aqui, não é?
Certamente na tua busca encontrarás outros parecidos comigo, só que mais próximos. O suficiente para te dizerem segredos ao ouvido, mais próximos para te abraçarem e te fazerem sentir mulher. Mas sabes, serão apenas próximos. Nunca voarão no teu íntimo como eu voei, nem te conhecerão tão bem quanto eu te conheci. O amor faz essa diferença e permite--nos espreitar a alma da pessoa amada. Ou então são apenas efeitos secundários deste desejo intenso e sempre perseguido de encontrar o tal grande amor. Talvez eu seja apenas doido e essa seja por si só razão suficiente para esta nossa relação terminar.
Não termina porque queira acabar com ela. Termina apenas porque apesar de começar, não leva a lado nenhum! Sim, talvez leve, a esse amargo de boca que sinto, a esta angústia no peito, a esta sensação de ficar vazio, pensando se a vida tem mesmo algum sentido, ou se é apenas isto, este andar à toa.
Não percas tempo com uma causa perdida. Gostava de te fazer feliz, mas nem a mim consigo fazer feliz, quanto mais a ti! Fica-me sempre este peso na consciência de teres estado tão perto, para acabares tão distante.
Mas tens razão, a proximidade foi uma ilusão e deixamo-nos ir na doçura dela. Deixa então que fique eu agora com os amargos de boca e te liberte.
Encontra quem te faça feliz e se não encontrares, saberás que te espero. Porque eu espero sempre...

Com esperança,
Este que te ama.

11 fevereiro 2004

O anúncio


Leia antes esta notícia

Ela passeava os olhos pela revista, porque efectivamente não tinha mais nada para fazer enquanto esperava no cabeleireiro a sua vez. Quase que desfolhava as páginas sem ver, mas nos pequenos anúncios algo lhe saltou à vista dizia:
"É VITIMA DE VIOLENCIA DOMÉSTICA? QUER POR UM FIM A ISSO? LIGUE-ME" Depois vinha um n. de telefone. Ela decidiu apontar, lembrando-se da última vez em que o marido chegara a casa bêbado e a desancara forte e feio chamando-lhe puta. Tivera que faltar ao emprego, mentindo mais uma vez que se sentia mal.
Era cada vez mais complicado lidar com a situação, e as bebedeiras do marido eram cada vez mais frequentes. Os filhos já não estavam em casa, cada um para longe, e quando a visitavam ela não queria que pensassem mal do pai. Mas ela tinha a certeza que os filhos sabiam. Um dia o Pedro que andava no exército ameaçou o pai, que o matava se ele me voltasse a tocar. Por isso tinha medo e mentia ao filho, quando este lhe telefonava tranquilizando-o.
Mas ela já não podia mais, e viu ali uma réstia de esperança.
Foi atendida, e quando chegou a casa, decidiu telefonar.
-- Estou sim? -- atendeu uma voz feminina do outro lado.
-- Estou, olhe eu estou a ligar por causa de um anúncio na revista...
-- Já sei minha senhora, mas é engano, fartam-se de me ligar para o meu telemóvel, eu nem me importo que vivo sozinha, mas num sei nada disso do anuncio percebe minha senhora?
-- Percebo, sim, queira desculpar...
-- Não tem mal, sabe... A maioria que telefona são mulheres... Queixam-se que os maridos lhes batem, é o seu caso?
-- Que interesse a senhora tem em saber?
-- Na verdade lamento essas pobres mulheres, cara senhora! Se o meu marido que Deus tenha em descanço me fizesse isso, eu rachava-o!
Ela percebeu que era uma idosa, e pensou que tudo aquilo era uma brincadeira de mau gosto, mas mesmo assim riu-se da velha senhora.
-- Pois eu minha senhora se pudesse também o rachava, o pior era depois! Queira desculpar-me o incómodo mas tenho mesmo de desligar...
-- Decerto senhora... Olha desejo que a besta que lhe bate Deus a castigue!
Ela riu--se outra vez, e disse a terminar:
-- Obrigado, com licença...
A voz do outro lado disse:
-- Faz favor. -- E desligou também.
A réstia de esperança feneceu.
Andava entretida arrumar a casa, esperando que ele mais uma vez chegasse do trabalho, comesse alguma coisa rápido e saísse logo para ir ter com os amigos, onde bebia cerveja até às tantas. Andava sempre com más companhias, um dos amigos já tivera a ousadia de a flertar, mas ela fez-se desentendida. Ela sabia que era jeitosa e bonita, mas isso apenas lhe dava dores de cabeça. Ele era mais velho e barrigudo e careca, e os companheiros dele ao contar que comiam esta e aquela apenas lhe atiçavam as inseguranças e ele vinha para casa armado em machão. Já quisera que ela deixasse de trabalhar, mas essa era o único escape que ainda lhe restava daquela vida amargurada.
O telemóvel ligou e ela atendeu:
-- Estou sim, quem fala?
-- Ligou por causa de um anúncio lembra-se?
-- De um anúncio?
-- Sim, violência doméstica.
-- Mas disseram-me que era engano!
-- Sim é engano, mas consigo saber quem telefona, não se preocupe. Está interessada em resolver o seu problema?
-- Sim, mas não sei como.
-- A Senhora é que sabe como.
-- Eu?!
-- Está disposta a fazer o quê? Sabe que os espancadores, mesmo os que se arrependem voltam ao mesmo não é?
Ela sabia bem disso. Quando recobrava a lucidez pedia-lhe perdão, que não voltaria a meter-se nos copos, que não suportava viver sem ela.
-- Então senhora? Eliminamos o mal pela raiz?
-- Está a falar em matar o meu marido?
-- Não; a senhora é que está. Eu perguntei-lhe o que estava disposta a fazer...
-- Matar... não sei... -- A consciência dela atormentava-lhe o pensamento.
-- Se não for a senhora acabar com ele, como acha que acabará?
Lembrava-se quando um dia ele veio como louco e lhe abriu um lanho na cabeça, e teve de ir ao hospital e mentir, dizer que tinha caído pelas escadas abaixo. Tinha ficado uma semana de cama. Outra vez, bateu-lhe com uma tolha molhada e ficou com o corpo todo cheio de hematomas, e sem conseguir dormir...
-- Então senhora, vou desligar e deixá-la a pensar. Volto a contactar. -- e desligou.
Tudo aquilo não demorara mais de 15 segundos.
Então era isso, um assassino a oferecer os seus serviços? Mas ele tinha dito que ela é que escolhia... Podia mandar dar-lhe um arraial de porrada, mas e depois? Ele não viria ainda mais azedo? Talvez até a acusasse de ter um amante! E seria tudo muito trágico.
Se alguém devia morrer nessa história seria ele. Quando casaram no altar, ainda se lembrava do que o padre dissera, que era obrigação dele protegê-la e amá-la. Ele falhara essa obrigação santa, era um miserável, dominado pelo álcool, pelas más companhias.
Já tinha decidido.
O telemóvel voltou a tocar...

10 fevereiro 2004

Quais são os teus valores?


-- Quais são os teus valores? -- perguntou o comandante para ele.
-- Não sei... Acho que numa guerra perdem--se os valores...
-- A tua causa então? -- insistiu o comandante.
-- Morrer. Por causa nenhuma...
-- Tu és um terrorista. Deves ter uma causa, ou és um mercenário?
-- Sou um homem. Perdido... Mas ainda assim um homem.
O comandante olhou o homem recém detido. Não havia provas de que estivesse envolvido em algum atentado, mas tinham encontrado material incriminatório. O homem parecia fazer parte de uma célula terrorista.
-- Quantos são vocês?
-- Menos do que vós, comandante, fique descansado. Somos uma minoria... Que nem sequer é respeitada...
-- Pra dizer a verdade, vocês é que não respeitam ninguém! -- descontrolou--se o comandante, na sua tentativa de parecer distante.
-- Compreendo... Mas como podia respeitar quem me ignorava?
-- Você não tem família? Já imaginou se num atentado estivesse a sua mãe? Não tem coração? -- tentou o comandante, num esforço por retomar o domínio da situação.
-- Tenho mãe... Ela morrerá de qualquer jeito comandante. Todos nós afinal. Deve haver qualquer coisa maior que as nossas vidas...
-- Ideais?
-- Esperança comandante, esperança...
-- E adquire--se à bomba essa esperança?
-- Quando os nossos gritos deixam de ser ouvidos, temos de ter quem grite por nós.
O comandante cerrou os punhos. Mas conteve--se.
-- E são os gritos dos inocentes que vocês fazem ouvir, não acha?
-- Não sei comandante... Às vezes penso que não há inocentes, porque continua tudo igual e há demasiado tempo...
-- O que quer dizer?
-- Que já tivemos tempo de por fim a toda a injustiça. Tempo para calar todos os gritos...
O comandante olhou para o chão. Também ele se lembrava de um tempo generoso, em que havia acreditado que podia transformar o mundo.

09 fevereiro 2004

Ping-Pong


Os terroristas tinham trabalhado toda a noite, finalmente conseguiram arrancar a caixa Multibanco e substitui--la por uma outra, obviamente falsa. Quem iria imaginar?
Acordara cedo naquele dia, levara a mulher ao trabalho, as crianças ao infantário e à escola primária. Sim, tinha dois pirralhos.
Estava desempregado e agora era eu que ficava com a maior parte das tarefas domésticas. Não me importava, mas parecia que a Nela (a minha esposa), começava lentamente a fartar--se da ideia. Assumia cada vez mais o papel de principal decisora, como seu eu não fosse tido nem achado. Acho que se emancipava, o que era bom, mas que me começava a desconsiderar o que era mau.
Tinha ficado sem liquidez na carteira, e como havia um Multibanco perto da escola, decidi passar por lá, mal tivesse deixado os miúdos. Eles eram a nossa alegria e a nossa preocupação. A Nela talvez achasse que na situação actual eles nunca pudessem frequentar a Universidade. Embora como o meu próprio caso provasse, um curso já não era garantia de nada. Mas ela teimava que era melhor ter um que não ter nenhum. Contudo ela não tinha, e estava a sair--se muito bem. Ela dizia que para o manter se esfalfava como uma escrava. E isso não era o que eu fizera sempre? Esfalfar--me como um escravo? Ela parava a discussão e encolhia os ombros. Acho que ela percebia que o mundo mudava para cada vez pior, e que nada podia fazer. Era uma insegurança que invadia tudo.
Vivíamos permanentemente em medo. Medo de perder o sustento, os filhos, o status e o mais que fosse.
Inseri o meu cartão Multibanco e a máquina obedientemente engoliu--o. Depois ao invés do habitual écran pra digitar o código de acesso, apareceu uma imagem pornográfica do Bin--Laden a sodomizar o Bush, como eu já tinha visto a circular nos emails.
Depois acabou--se. A caixa Multibanco explodiu com estrondo e pedaços de mim foram parar a mais de 50 metros de distància esborrachando--se nas paredes dos prédios em frente do outro lado da rua. Não houve corpo para identificar, a única coisa que deu para isso foram as provas circunstanciais: o carro estacionado e o meu desaparecimento.
Comigo morreu mais um desgraçado que ía para o trabalho e que passava na hora errada, no local errado. Um autocarro que passava perto deu origem mais de 35 feridos, felizmente todos sem grande gravidade para além do susto.
A Nela esteve à espera 5 anos para receber do seguro de vida, e só recebeu em tribunal, quando os peritos em ADN, afirmaram que os pedaços da vítima encontrados eram mesmo os meus. Ela deixou de trabalhar para cuidar dos nossos filhos e eles puderam ir estudar para a Universidade com base no dinheiro do seguro. A vida continuava.
Era um jogo de ping--pong, onde nós somos a bola, batida de um lado para o outro, até rebentar ou cair da mesa.

07 fevereiro 2004

Um dia f...


Há dias que parecem o retrato de uma vida. Este foi um deles. Tinha combinado sair mais o Zé e o Paulo, iríamos à praia no buggy que o Paulo cravara ao tio. Lá estava eu com a toalha pendurada no ombro, sentado na arca térmica com as cervejas para a tarde e com a bola de vólei debaixo do braço quando eles apareceram na esquina combinada.
Vi logo que a coisa não ía correr muito bem, porque as namoradas vinham com eles.
-- Pedro, -- disse o Paulo -- vais ter de ter paciência mas hoje num dá... Elas quiseram vir...
-- E o buggy só leva quatro e apertados! -- riu o Zé.
E arrancaram, como se o que eu merecesse fossem meia--dúzia de palavras, para desmarcar um acontecimento planeado há meses. Tudo por causa de umas cabras de umas namoradas arranjadas à pressa.
Fiquei mesmo a ver a cena da orgia que se ía desenrolar, e aquilo deu--me cá uma volta no estômago que tive vontade de abrir a arca e beber as cervejas todas até cair para o lado. Mas depois...
Se os rapazes se iam divertir eu também ía. Voltei a casa e consultei a minha agenda. Depressa me dei conta que tinha cultivado poucas amizades com miúdas, mas mesmo assim enchi o peito de ar e fui à luta.
Liguei para a Alda:
-- Estou...Quem fala? -- perguntaram do outro lado.
-- É o Pedro a Alda está?
-- Não, a Alda saiu mais o namorado, foram ao cinema...
-- Ok, obrigado. -- E desliguei.
Ao cinema uma ova, com o dia lindo de sol que estava, a puxar para a pouca roupa, a Alda tinha ido era para a ‘brincadeira’ mais o namorado.
Tentaria outra.
-- Olá! A Joana está?
-- Está, mas está a dormir, veio ontem da discoteca muito tarde...
Mais uma que tinha andado no martelanço toda a noite e estava estupidamente a dormir de cansaço e a perder um dia lindo. Mas ainda não era altura de desistir.
-- Olá Vi, como vais?
-- Eu? Porquê? -- a coisa não começava bem.
-- Hoje tá um dia lindo pensei...
-- Pensaste o quê? -- o tom era mesmo agressivo. Mais tarde soube porquê: Ela tinha rompido com o namorado! O gajo disse que queria casar virgem e a Vi, chamou--lhe maricas, mas como gostava muito dele, nem sequer cogitou tirar a desforra.
-- Pensei se gostarias de vir comigo até à praia... Tenho cervejas fresquinhas...
-- Ah bom... -- o tom pareceu amenizar, e achei que talvez viesse ainda a ter sorte. -- E depois vamos ao cinema?
-- Se tu quiseres...
-- E depois do cinema... -- disse ela com voz muito suave, -- queres vir a minha casa, subimos até ao quarto?
A ideia parecia-me espectacular!
-- Sim, sim! -- disse eu.
-- Fazemos sexo? -- perguntou ela.
-- Se tu quiseres! -- era claro que eu queria.
-- Olha... -- disse ela suave como veludo, e depois numa mudança de tom surpreendente disparou:
-- Quero que te vás f... -- e desligou.

06 fevereiro 2004

Deixa-me


A vida às vezes é tão complicada que se armadilha e entretece no objectivo de nos tornar loucos! O amor, ou a sua ilusão são a maior das loucuras. No fundo andamos todos frustrados à procura da felicidade.
Viciamo--nos no sexo, nas drogas ou no trabalho, e são paliativos para este vazio que sentimos dentro e que cresce e se adensa até ocupar todo o nosso íntimo. É perverso, uma doença muito pior do que o cancro. E o que se faz? Há muitas estratégias e todas elas são inúteis, porque não há nada a fazer. É somente um engano julgar que podemos ser felizes. Ou então se o somos, é porque somos ignorantes em qualquer sentido e a futilidade da vida não nos consegue alcançar. Creio que é também por isso, que preferimos consumir ao invés de pensar.
O consumo é outra droga.
Fiquei sem ela há muitos anos atrás. Pensava ter deixado isso num lugar remoto, mas afinal transportei essa mágoa o tempo todo. Sim, eu sei o que perdi...
Também eu outrora abriguei sonhos e vivi. Desisti dele, do sonho mais belo e passei a morrer, a acomodar--me, a desistir, a não me importar.
Na ausência dela, aprendi a ausentar--me. Era a minha maneira de lidar com a dor.
Amei o quanto pude e o quanto não devia. Talvez fosse demasiado amor para uma pessoa só, e depois disso andei a distribui--lo conforme calhou ou pude ou deixei. Não me importava.
Acho que ainda hoje não me importo. Andei assim sem rumo ao acaso, ao sabor do vento. E fui tombar no que sou hoje.
Não me apetece lutar, nem ter sonhos. Já me disseram que esta é a estratégia do zombie, mas não leva a lado nenhum, é apenas desperdício.
Às vezes acho que a vida é isso mesmo.
Queria ter uma esperança, mas morreu quando a deixei partir. E como é a última coisa a morrer (a esperança), demorou muito a partir.
Chegou agora a altura de te enterrar! De me libertar da esperança que tu encerras ou da dor, ou de tudo o que quis que fosses na minha vida. De tudo aquilo que te deixei ser na minha vida. Desculpa!
Mas tens de deixar de me perseguir por entre as minhas memórias e o meu desejo de amar em plenitude. Não tens lugar aqui. Não podes ter ou endoideço ou morro, porque ando por aí. Morto.
Deixa--me resssuscitar e partir de novo pelo resto dos caminhos que me restam ainda. E se não puder ser feliz, deixa--me pensar que ao menos posso tentar!

05 fevereiro 2004

Tudo


Dantes éramos capazes de sonhar em conjunto. Hoje não falamos, nem sonhamos. Talvez se tenha perdido algo. Ou talvez tenha de ser assim, neste tempo de relações passageiras, alimentadas de bytes e de bits. Acho que a mim são cada vez mais bits (=pedacinhos?).
Acho que a virtualidade cria, recria e desfaz os sonhos, mas não é um sonho. Porque um sonho desfaz-se na manhã ao acordar, e podemos olhar para o lado e encontrar algo ou alguém. E serenamos as inquietudes, ou aumentamo-las, mas que importa? Sempre há alguma coisa que nos toca, nos atinge.
Talvez por isso te afastes. Não porque queres, mas antes porque queres outra coisa, mais palpável, mais real, mais sensível. A virtualidade amputa-nos.
Sim, soube disso quando me pediram que viajasse e fosse em pessoa resolver um assunto importante. Não consegui sair de casa. Dei por mim prisioneiro do conforto, do comodismo, do estar. Para quê sair e enfrentar o frio e a realidade das coisas, quando daqui, da segurança e conforto do lar, posso chegar a todo lado?
Sim, ela pediu--me que se a amasse, não lhe desse toques de telemóvel ou mandasse mensagens, nem queria teclar comigo, nem ver-me na webcam... Queria sentir o calor do meu corpo, a carícia das minhas mãos, o meu corpo...
Não consegui e apesar de tudo...
A virtualidade tira-nos tudo e ela era tudo!

04 fevereiro 2004

Kriptos


O espaço serve de palco à reverberação das palavras que ricocheteiam nas paredes, nos móveis e em nós, que estamos sós. Mais solitários porque estamos juntos, banhados em sonoridades que perderam o sentido, transformando-se agora num ruído de fundo, que já pretendeu ser comunicação. Os sons são como poalha que nos inunda e incomoda. Pelo meio ficam palavras que não querem dizer nada, são como gritos de naufrago no troar da tempestade. As palavras ficarão mais espessas e mais líquidas. Morreremos nadando, sabendo que é para nada.

03 fevereiro 2004

O Ovo de Rá


Ao subir a Montanha Negra, amaldiçoava secretamente o vício de leitura de Ratapone. Ele era o meu Mestre, mas acho que o facto de ler livros a mais lhe turvara um bocado caixa dos pirolitos! Eis-nos ali depois de atravessar as Terras Sombrias, um conjunto de pàntanos fétidos onde se ficava doente só de respirar, para chegar à Montanha Negra, onde segundo Ratapone, viva um eremita que podia indicar-nos o caminho que em tempos idos o sacerdote egípcio Memeth tinha tomado. Ratapone tinha lido velhos relatos sabe-se lá em que livros bolorentos e de certeza respirara algum fungo psicotrópico, que o fizera crer naquelas histórias todas.
Tinha tentado chamá-lo à razão e quase me bateu. E agora ali estávamos a praticar alpinismo! Era uma comitiva gira, eu (o seu discípulo), Godo (o seu criado), e Helmut um lobo que falava, vá-se lá saber porquê! Helmut também não ía contente, demonstrando isso por ir todo o caminho a rosnar, só Ratapone na frente parecia ir contente. Para mim uma espécie de contentamento de alguém que tomou qualquer coisa.
Quando nos sentamos no meio de um dos muitos fétidos pàntanos das Terras Sombrias, Godo segredou-me que temia pela sanidade mental do seu amo. Tal tipo de confidência, por parte de Godo era raríssima, se é que alguma vez acontecera! Mas Godo seguiria Ratapone até ao inferno se fosse preciso e tenho a certeza que arranjaria maneira de lhe servir um refresco!
Estávamos a trepar a Montanha Negra há dois dias, e se eu não tinha ideia alguma do caminho que devíamos seguir Ratapone consultava o seu bloco de apontamentos e dva risadinhas, que em vez de me transmitirem alguma tranquilidade tinham o condão de me pôr nervoso.
Ratapone mandou que nos abrigássemos para passar a noite, e Helmut passou para a frente a farejar e disse:
-- Sigam-me...
Ratapone só coleccionava aberrações. Helmut um lobo que falava. Godo era a pessoa mais fiel que se podia ter, e desenrascado como ninguém, apesar de magro e aparentemente frágil. E eu? Bem, Ratapone dizia que eu era inteligente… Deve bastar!
-- Estamos perto, muito perto. Em breve estaremos a falar com o eremita...
-- Mestre Ratapone, quantos anos tem o livro que leu?
-- Sobre o quê, meu filho?
Detestava quando ele me chamava de filho.
-- Onde leu sobre o eremita...
-- Oh! Esse... deve ter mil anos...
-- Mil anos?!!! Então de certeza que o que vamos encontrar não é um eremita, é um cadáver!
Helmut o lobo que falava riu, e eu apanhei uma bordoada pela cabeça abaixo.
-- Às vezes chego a duvidar da tua inteligência meu filho...
Pensei para comigo que eu duvidava era da sanidade mental do paizinho.
-- O eremita da Montanha Negra, tem uma poção à base de ervas e de cogumelos...
-- Vou ver se apanho uma lebre... -- interrompeu Helmut.
-- Este Helmut é muito... pragmático! -- disse o Mestre Ratapone com algum azedume por ter sido interrompido.
-- Vou tentar arranjar algo para temperar a lebre senhor... -- disse Godo, sem esperar licença para se retirar.
Fiquei sozinho mais o Mestre, e senti-me tentado a pagar-lhe na mesma moeda, por me ter dado uma bordoada, mas depois contive-me.
-- Mestre, porque vamos consultar esse tal eremita?
-- Porque só ele sabe o caminho que Memeth, o sacerdote egípcio percorreu através das montanhas para depositar o ovo de Rá.
-- Ovo Mestre? A esta hora tá podre...
Antes que tivesse acabado apanhei outra bordoada, e antes que me pudesse lançar sobre o velho Mestre senil, apareceu Helmut e Godo.
-- Já apanhei uma lebre... -- disse Helmut.
-- Vou assá-la... -- acrescentou Godo.
-- Que maravilha! -- disse o Mestre.
-- E eu perdi o apetite! -- resmunguei.
-- Posso ficar com a tua parte? -- perguntou Helmut, com um sorriso escarninho.
-- Podes, se apanhares as bordoadas do Mestre que me estão destinadas!
Foi uma risota geral e o ambiente desanuviou um pouco.
-- Filho, devias prestar atenção... -- falou o Mestre dirigindo-se a mim. -- O eremita não morreu, tenho a certeza. E quanto ao ovo...
-- Gosto de ovos... -- murmurou Helmut.
-- Helmut, é um ovo sagrado... -- esclareceu o Mestre.
-- Não se pode comer? Então qual é o interesse?
Ri-me, e apanhei outra bordoada.
-- Mas só eu é que apanho?! Bolas!
-- O Helmut tem desculpa é apenas um lobo, tu não. E não se deve gozar da ignorància dos outros...
Helmut e o Godo riram, mas eu não achei piada, e afastei-me estrategicamente do alcance do bordão do Mestre.
-- Trata-se de um ovo sagrado que Memeth o sacerdote egípcio trouxe do Egipto, para que ninguém o pudesse encontrar...
-- Bastava tê-lo atirado a um pàntano das Terras Sombrias, que já ninguém o encontrava!
-- Sim, mas esse não seria o destino adequado a um ovo sagrado.
-- Pois... Era preferível chocá-lo. -- disse Helmut -- Sempre daria um passoroco qualquer...
Acho que o Helmut pensava com o estômago.
-- Não é um ovo de pássaro nenhum... -- disse o Mestre. -- É o ovo da criação...
-- O quê?! -- perguntei espantado e escandalizado.
-- Sim, esse ovo contém o poder da criação, é a chave para a imortalidade... -- e o Mestre Ratapone, mergulhou dentro de si. -- Não podemos deixar que caia nas mãos erradas...
Helmut piscou os olhos e enroscou-se próximo da fogueira para dormir. Godo atiçou a fogueira. E eu pensei que estava metido com um velho senil!

02 fevereiro 2004

Representando


O corpo alterara-se, e estava em crer que a sua má disposição, que afinal toda a má disposição dos velhos se deve a um sentir um corpo velho. O nosso cérebro regista a decrepitude do corpo e não gosta, marca como falta de qualidade e sente saudades do corpo que já foi, cheio de vitalidade. Mas as saudades de um tempo mais viril, enchem-no de frustração.
Acresce a esta a tomada de consciência da vida que podia ter sido ao invés da vida que foi, e que é. E já nem sequer há tempo para dar um retoque. E com que pincelada corrigiríamos uma borrada?
Portanto, envelhecer só pode trazer rabugice. Ou então essa doce serenidade de quem se contenta com a sua sorte e fez as pazes com a vida. Esse alguém parte sem derrota, é mais uma rendição honrosa.
E descobrir que a vida foi gasta a amar quem não merecia? Quem não estimou o privilégio de o querermos dentro do coração? É apenas demolidor. Mas não deixa de ser bonito, como o pôr-do-sol que ao apagar o sol, tinta os céus em aguarelas gigantescas.
A despedida deve ser assim em tom de festa...
E porque não amar até ao fim? Será uma vingança sublime de tudo o que a vida nos fez pensar que perdemos. Podemos ser forçados a sair do palco, mas faremos isso com estilo, um drama de amor, ou amando, como heróis desconhecidos de um grande romance. Mas será nossa a última deixa.
Se te perguntarem:
-- Sentiu-se usado?
Pergunta em troca:
-- Sim, mas fui bem usado! -- e sorri.
A vida nunca é muito como gostaríamos que fosse, é mais como tem de ser. E neste tem de ser, devemos lembrar que é como uma peça de teatro, temos de respeitar o que escreveu o autor, por muito que nos apeteça improvisar!
Não, não falo de destino, estamos sempre a saltar entre peças. Umas vezes fazemos de bandido, outras de anjo. O que resta de verdadeiro? Nós.
Por isso devemos ir a rir, porque no fim, ainda estaremos a representar.
Nesta vida somos todos actores, mas as escolhas nem são muito variadas! Umas vezes somos pobres diabos, outras, diabos pobres. Nem toda a gente fica com os papéis principais ou a garota de estalo! Os heróis são poucos e regra geral são sempre os mesmos. A maioria não passa de figurantes, ou às vezes de figurões.
Pois se assim é, que antes de abandonar o palco o façamos com estilo, à nossa maneira. Um papel digno, não de alguém que sai vencido, mas alguém que deixa uma marca. E não há melhor marca, do que ficar no coração dos espectadores!
Quando morrer, quero deixar uma legião de fãs!

01 fevereiro 2004

O programa errado


Atirava entretido pedras na água que faziam ricochete na superfície e pareciam desafiar as leis da gravidade e voar. Pedras que voam! E nem devia ser admiração, pois o que são os planetas, se não calhaus que voam num espaço onde a gravidade é a rainha?
Olhos os céus e pergunto se entendemos qualquer coisa do projecto. Acho grande demais, admirável demais, e nunca acreditei que fosse fruto do acaso.
Mas às vezes, ponho-me a pensar: E se foi?
Se foi, um acaso cria coisas demasiados belas, e tão fúteis então (porque são apenas acaso), que mais valia que nunca tivessem existido!
Se a vida que experimentamos, é apenas um fruto do acaso, é um fruto amargo e sem sentido. Um caso mais cruel, do que a existência de um Deus que nos tenha esquecido por aqui, neste calhau apaixonado pelo Sol.
Sei que de certeza, quando a vida nos faz parar para pensar, já vos atravessou a angústia do que tudo isto significa. Talvez tenham tentado atirar esses pensamentos para dentro de um qualquer buraco negro, onde lançamos as ideias que não queremos que nos importunem mais. Mas elas saiem de qualquer buraco negro, para nos virem assombrar o sossego de um quotidiano anestesiante.
Não sei se pensam na vossa existência enquadrada no drama cosmológico, mas eu às vezes não consigo evitá-lo. Pergunto-me com montanhas de porquês, e ainda assim e apesar de algumas respostas, sinto-me submerso não pela grandeza do todo, mas pela consciência da minha pequenez.
Ás vezes penso que sou uma borboleta a agitar as asas, tão insignificante quanto ela. A vida passa breve, e ao contrário da borboleta tenho a desvantagem de projectar-me no futuro e saber que a eternidade que almejo e quero, pode não passar de uma quimera. De apenas um sonho perseguido desde tempos imemoriais. Nunca me convenceram de que a morte é uma coisa natural... Se fosse, já devíamos ter aprendido a lidar com ela, sem ser com lágrimas. A morte é apenas uma doença que sofremos a vida inteira. O mal é que não temos a cura.
Desculpem se vos perturbo, mas estou convencido que o projecto inicial previa que fossemos eternos. Alguém carregou o programa errado...